Quando janeiro chegar, com ele virá mais um ano, mais um Carnaval, mais feriados e, ali, logo ali, mais um fim de ano!
É impressionante como o tempo parece passar cada vez mais rápido, num turbilhão, quase sem percebermos: na velocidade do som, que ensurdece, sem se fazer entender; ou da luz, que cega, em vez de iluminar.
E porque isso?
Creio que Caetano sintetizou bem esses novos tempos em uma de suas canções, quando explicou: “É tanta coisa para a gente saber”!
De fato, hoje existe tanta coisa para nos distrair; tanta coisa para ter, parecer ou, simplesmente, aparecer, que a gente perdeu a noção do tempo e, não raro, só o percebemos quando ele já passou.
Aí, quando chega dezembro começamos a fazer planos para o ano seguinte.
Para muitos, esses planos são apenas a repetição dos anteriores, só mudando de versão, tecnologicamente falando. Um novo equipamento que faça muito mais coisas, muito mais rápido e em muito maior quantidade, embora você não use nem 0,5% desse potencial antes de considerá-lo ultrapassado, já de olho na novidade “indispensável”, que você precisa ter para outros verem!
Também pode ser uma viagem exótica, luxuosa, cara e exclusiva, daquelas que você precisa avisar todo mundo que vai fazer e, depois, contar para todo mundo que fez, com todos os detalhes.
Pode ser, ainda, comprar toneladas de roupas de grife, ou jóias, ou sei lá mais o quê, para que os outros vejam ou, quando não for tão evidente, você, mesmo sem perguntarem, diga onde comprou e quanto pagou, ou considere que quem não notou não tem o seu “nível”.
Esse materialismo faz com que a gente se cubra com tantos espelhos, que deixa de notar que todo esse brilho não emana de nós: é apenas reflexo do que nos envolve.
Como a gente seria sem esses adereços: fisicamente nu?
Como a gente seria sem esses penduricalhos: espiritualmente nu?
A mesma música de Caetano, de certa forma, também sugere uma reflexão: “Eu preciso aprender a só ser!”, embora essa frase dê margem a múltiplas interpretações.
Mas aí está uma das coisas mais humanas que existem: interpretar! É quando saímos da regra, que escraviza, para a reflexão, que pode libertar! Uma reflexão que depende de outro tipo de espelho: o interior, que reflete o que somos para nós mesmos; que não precisa convencer ninguém de nada; que não precisa mostrar algo; que não carece de aplausos, nem precisa de público.
Mas interpretar também pode ter outras interpretações, como agir ou tentar ser alguém que não se é, como se isso ajudasse a não perceber o tempo passar, ou distraísse de coisas que não se quer enfrentar.
Nesse sentido, 2011 pode ser apenas mais um ano que mal começa já termina; mais um ano sem sentido, dependendo do sentido que lhe for dado.
Mas, quando janeiro chegar, também poderá ser o primeiro mês de um ano de muita felicidade buscada, merecida e alcançada; de muito amor sincero e, principalmente, em que cada segundo será vivido consciente e apaixonadamente, em plenitude. Tempo em que o espelho da alma talvez nos permita ver além das aparências; refletir, em vez de espelhar; iluminar, em vez de ofuscar.
Assim, que em 2011 a esperança nos dê asas, mas que a ilusão não nos tire da realidade; que não sejamos iludidos e que não enganemos nem aos outros nem, sobretudo, a nós mesmos.
Quem sabe, então, vejamos o tempo passar como uma suave brisa, que nos leve com ele!
Feliz 2011!
Adilson Luiz Gonçalves
Mestre em Educação
Escritor, Engenheiro, Professor Universitário e Compositor
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