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quinta-feira, 6 de agosto de 2009
O Outro*
H.Spencer Lewis - Uma das mais lúcidas mentes que a humanidade conheceu
O OUTRO*
Hideraldo Montenegro F.R.C.
Quem é o outro? O que é o outro? Qual a importância do outro em nossas vidas? Como o outro participa e contribui com a nossa existência?
O caso das meninas-lobos, Amala e Kamala, descobertas em 1920, na Índia, que depois de terem convivido com lobos não conseguiram se desenvolver intelectualmente, permanecendo com comportamentos animalescos, pois, os seus raciocínios lógicos haviam sido afetados, suscitou profundas e instigantes reflexões antropológicas, sociológicas, psicológicas, filosóficas e místicas. O convívio social é essencial ao desenvolvimento humano?
Chamamos de “outro” aquele que não somos nós. Ou melhor, aquele que não “sou eu” é outro. O “outro” está separado de mim. Todavia, misticamente estes pensamentos não são tão simples e reais assim.
DEPENDÊNCIA NATURAL E DEPENDÊNCIA ARTIFICIAL
Embora muitos desejem, mas jamais seremos completamente independentes. Primeiro, porque, para começar, necessitamos do outro para sobreviver. Precisamos de um seio para nos alimentar em nossos primeiros anos de vida; precisamos do outro para aprender a falar, andar, obter alimentos, escrever, raciocinar, amar e ser amado, etc.
Esta dependência é extremamente necessária e salutar.
É fácil perceber que experimentamos dois tipos de dependência. Uma natural, necessária e salutar e outra artificial, forjada, nefasta, pois, está condicionada ao nosso ego. Muitos sucumbem a esta outra e, sequer, percebem que estão presos a ela. Embora, herdamos alguns traços culturais desta última, nosso ego, através da vaidade, orgulho, prepotência, etc, a alimenta.
Enquanto, a dependência natural nos aproxima mais dos “outros”, ao ponto até de eliminar a distância do “eu” (individual) do outro, a dependência forjada caminha justamente num sentido oposto, nos separando cada vez mais do “outro”.
Enquanto, a dependência natural gera amor, a dependência artificial, egóica, gera ódio. Enquanto, uma une, a outra separa.
O ego cria um limite inexistente na alma (portanto, uma ilusão). Desta forma, quanto mais forte um ego (e seu egoísmo), mais distantes ficamos de nossa essência comum. Inversamente, na medida em que vamos despertando nossa alma, mais as fronteiras entre o “eu” egóico e a alma vão se diluindo.
Descobrimos que, na medida em que nos libertando do ego, mais percebemos que não existe o “outro”. Afinal, esta separação é ilusória, pois, constatamos que, em essência, o “eu” verdadeiro do “outro” é exatamente igual ao nosso.
DEPENDÊNCIA ARTIFICIAL
O ego cria a ilusão de independência, contudo, paradoxalmente se nutre da opinião alheia. Sem perceber (?) o ego cria uma dependência do “outro”. E, nesta dependência forjada, a opinião do outro é decisiva. Somos aquilo que o outro diz que somos.
Nossos valores sociais dependem do que o outro determina. Assim, os valores reais, humanos, são desprezados.
Neste caso, falamos, andamos, nos vestimos, escolhemos parceir(as)os, obtemos tais e quais objetos e títulos, etc, esperando uma reação do outro. Esta é uma dependência estabelecida pelo ego. Desta forma, nos tornamos escravos do “outro”. Somos aquilo que o outro nos classifica. Lutamos assim para impressionar e obter aprovação do outro, de alguma forma.
Todo um mercado de consumo, que alimenta o ego e sua vaidade, é montado para atender e estimular esta dependência.
Assim, somos escravos da opinião e avaliação do outro sobre nós. Esta é uma dependência nefasta e doentia e em nada nos acrescenta de verdadeiro, ao contrário.
Afinal, maior fraqueza não há do que depender da opinião alheia.
Neste universo de disfarces e aparências vamos montando as nossas máscaras e, assim, gradualmente vamos obscurecendo a nossa luz e essência. Os valores humanos vão sendo substituídos por valores artificiais.
DEPENDÊNCIA NATURAL
Conseguimos medir o quanto devemos aos nossos pais, amigos, professores e as grandes mentes que nos ajudaram em nossa caminhada humana, etc? Sabemos dimensionar a importância de todos em nossas vidas?
O fato é que precisamos do outro, não para alimentar nosso ego de ilusão, mas para sobrevivermos e evoluirmos.
O que seríamos hoje sem a influência direta e indireta de várias pessoas do passado e do presente?
E, que bom que precisamos dos outros, afinal, sem eles não seríamos absolutamente nada! E, como é grandioso também puder ajudar e contribuir com alguém de alguma forma!
Não é à toa, inclusive, que hoje estamos envolvidos com questões ecológicas, pois, já estamos conscientes de que dependemos completamente do nosso meio ambiente. A sobrevivência de plantas e animais (inclusive insetos) garantirá a nossa própria sobrevivência, por exemplo.
Dependemos de insetos e plantas! Não há mais lugar para o individualismo. Dependemos do todo, pois, fazemos parte dele e, assim, o interesse coletivo envolve cada um de nós.
Não há evolução sem cooperação. A vida no planeta depende da harmonia e equilíbrio das relações entre os seres vivos.
Nada podemos construir sem o outro. Mas, o outro, misticamente falando, é mais do que isto.
O ESPELHO
Não há símbolo melhor para representar a nossa consciência do que o espelho. Num espelho contemplamos a imagem de um outro que não é outro senão nós mesmos. O “outro” sempre será uma ilusão. Esta separação espacial não é verdadeira na ilimitada essência da alma, ponto central da unidade humana.
O “outro”, na verdade, é um espelho do “eu” para nos compreendermos melhor. No “outro” descobrimos a nós mesmos. O “outro” existe apenas no ego. Na alma não existe o “outro”. Na alma só existe o “eu”.
E, todo cuidado é pouco, porque há coisas que nos aproximam ou que nos afastam deste “outro” que somos “eu”.
Independente é o ser humano que se livrou da escravidão do seu ego. Afinal, evoluímos na medida em que nos despimos das máscaras que encobrem a nossa essência. Só somos autênticos quando conseguimos sermos nós mesmos. E, somos nós mesmos quando descobrimos que o “outro” do outro lado do espelho somos nós mesmos.
Descobrir o outro é descobrir a nós mesmos. Descobrir a nós mesmos é revelar o outro que há em nós. Assim, descobrimos o Amor Universal que une todos os seres.
•Este artigo é um tributo a H. Spencer Lewis, por tudo que devemos a ele.
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