Sagrado Testamento Corpóreo de um Pós-Poeta
Poeta Silas Correa Leite
Quando eu morrer, quero deixar meu corpo todo, para, em meu nome, em nome do meu historial humanista de vida, fazer minhas últimas ações póstumas em defesa da ética, dos excluídos sociais, sempre protestando contra as riquezas impunes, os lucros injustos, as propriedades roubos, o cínico estado mínimo, e o câncer do neoliberalismo e suas privatarias, a globalização da miséria informal e o neoescravisno da terceirização amoral:
Vamos por Partes:
01)-Minha orelha esquerda deixarei para ser enviada ao Congresso Nacional Brasileiro, para ajudar que sejam ético-humanistas os ouvidores dos clamores das massas populares, já que o poder em nome do povo deve ser exercido, e assim possam customizar as leis para prover os Sem Teto, Sem Terra, Sem Trabalho e Sem Amor, os descamisados... mais as florestas e os povos das florestas;
02)-Meu olho esquerdo deverás ser enviado à ONU-Organização das Nações Unidas, para dizer que, mesmo depois de morto, feito uma metáfora de aviso, estou e estaremos de olho no trabalho oficial para que seja mais humanitária e menos reprodutora de injustiças dos países dominantes, do poderio financeiro e bélico deles, e criem efetivamente mecanismos de reprodução de riquezas e lutem contra oligarquias e monopólios que aumentam injustiça, geram a miséria e obtém lucros com a fome;
03)-Minha orelha direita deverá ser exposta no mais alto patamar de Itararé, minha aldeia natal, Santa Itararé das Artes, para ali poder ouvir, sentir e captar as vozes todas do ambiente, céus, rios, florestas, chuvas e espaços geofísicos naturais que me permitam estar simbolicamente atento ao clamor dos sentidos da vida em seu mais puro habitat humanizado;
04)-Meu fígado deverá ser embalado a vácuo e enviado ao bairro do Bixiga em Samparaguai, como um representante ético-humanista de boêmio pela própria natureza, e deverá assim estar sempre ao lado do que representa a vox populi da fauna notívaga e assim então poder ser acalentado pelas vozes dos artistas de rua, de bares e de tantos forfés em contentezas e prazeiranças da área etílica, pois, como disse o Chico Buarque de Hollanda, a seco, ninguém segura esse rojão;
05)-Meu coração de Andorinha será enterrado no Cemitério Lágrimas do Céu de Itararé, no mesmo túmulo de minha Mãe Eugenia, e ao lado dele brotarão flores de lágrimas, em memória de quem me deu a vida, e também em memória de meu pai Maestro Antenor que me deu inspiração, e também das pessoas que amei e partiram primeiro, e que me foram a razão de lutar, de ser e de sobreviver;
06)-Meu polegar esquerdo será enviado virado pra baixo, para as pessoas ou instituições que maltratarem animais, no sentido de expressar minha tristeza, meu protesto e meu gesto negativo contra todas as formas de deterioração de vida, inclusive da vida humana banalizada pelo consumo insano e dentro das infovias efêmeras a hipocrisia do ter valendo mais do que o Ser:
07)-Meu polegar direito deverá ser enviado à entidade, instituição, associação ou núcleo humanista que mais fizer em prol da vida, da defesa da vida, das causas sociais, da vida com compromisso ético e sócio-inclusivo, do humanismo enquanto defesa da liberdade, da democracia, da cultura para todos, pois a gente não só quer só comida, a gente quer prazer, diversão e arte como libertação;
08)-Meus pés serão transformados em ornamento, como um símbolo de busca de evolução, de aprimoramento espiritual, de sentido filosófico-existencialista ao verbo caminhar, pois somos, estamos e permanecemos, no sentido da grande busca que é a paz para todos, a provisão de luz para os espíritos viajosos carentes na espiritualidade do arco-íris atrás da estrada de tijolos amarelos, e contra todas as formas de opressão e mesmo do estado ineficaz em dezelo público;
09)-Meu dedo indicador será apontado contra as potências que fazem dos armamentos as piores formas de opressão, de domínio, buscando poder com sangue, destruindo vidas humanas em favor de estados bélicos, e será sempre inquisidor em sentido da busca pela paz no mundo, paz com justiça e pão, paz com justa distribuição de renda, paz em que não haja mais fronteiras, bandeiras, estados de guerra, como muito bem cantou John Lennon;
10)-Minha pele de Itarareense boêmio pela própria natureza, será transformada em produtos de couro, para num sentido lembrar sempre ao mundo que a pele de todos os animais ou do próprio ser humano são a mesma coisa; devemos preservar todas as vidas no planeta terra, em nome de uma sobrevivência conciliadora como o sonho de Shangri-lá, de Pasárgada ou de uma Jerusalém Celeste, em que o leão paste com o cordeiro, todas as vozes se unam, sejamos todos irmãos e todos por todo, na alegria e na tristeza;
11)-Dos meus ossos então finalmente queimados serão feitos cinzas, em memória de Luther King, de Gandhi, de Maiakovski e de outros mitos que foram mortos ou se mataram por causa da fé, pela loucura de compreender e humanizar a vida como um todo; contra a opressão de qualquer tipo ou em nome de Deus, religião ou situação emergencial, e para que todos saibam que somos todos iguais, voltaremos ao pó, e em memória dos que cantaram o amor ao próximo, o amor à vida, ou à arte, e assim finalmente ficarão minhas cinzas para comporem o sagrado corpo de terra, a serem atiradas na curva do Rio Itararé, o rio que banha a minha aldeia-ninhal, o mais belo rio que banha o meu berçário-raiz;
12)-Meus cadernos de rascunhos, já perto de mil, quantos forem à época de minha travessia, deverão ser doados ao núcleo de filosofia ou de letras da USP-Universidade de São Paulo, para estudos, pesquisas, acertos, tentas edições possíveis e abertas, e todos os proventos de percurso, além de sustentarem uma fundação cultural de Itararé, Cidade Poema, terão seus direitos reservados para serem providos a instrumentalizações de inclusão social, defesa da vida, do meio ambiente, da auto-sustentabilidade que essa instituição precisa e deve em meu nome e historial representar;
13)-Meus restos, por fim, o que restar ao final de tudo, nessa empreita, plantem em vasos de flores e deixem pelas ruas de cacau quebrado de Itararé, terra-mãe, meu reino encantado, para que um aqui e um ali, leve para si, para seu canto, para seu lar, para o seu sonho, as pétalas de meu lado sentidor, proseador, meu lado sobrevivente, porque, afinal de tudo, apesar de tudo, a maior vingança é ser feliz, e só somos felizes mesmo quando todos possam ter o que comer, haja justiça transparente e o direito de protestar contra tudo e contra todos seja sagrado, pois, afinal, já disse o poeta, o importante é que a emoção sobreviva, e o amor é comunitário e serviçal.
E tenho dito – está escrito: Maktub
– Itararé/Sampa/31/10/2010
-0-
Poeta Silas Correa Leite - E-mail: poesilas@terra.com.br - Site
www.portas-lapsos.zip.net
Poeta Silas Correa Leite
Quando eu morrer, quero deixar meu corpo todo, para, em meu nome, em nome do meu historial humanista de vida, fazer minhas últimas ações póstumas em defesa da ética, dos excluídos sociais, sempre protestando contra as riquezas impunes, os lucros injustos, as propriedades roubos, o cínico estado mínimo, e o câncer do neoliberalismo e suas privatarias, a globalização da miséria informal e o neoescravisno da terceirização amoral:
Vamos por Partes:
01)-Minha orelha esquerda deixarei para ser enviada ao Congresso Nacional Brasileiro, para ajudar que sejam ético-humanistas os ouvidores dos clamores das massas populares, já que o poder em nome do povo deve ser exercido, e assim possam customizar as leis para prover os Sem Teto, Sem Terra, Sem Trabalho e Sem Amor, os descamisados... mais as florestas e os povos das florestas;
02)-Meu olho esquerdo deverás ser enviado à ONU-Organização das Nações Unidas, para dizer que, mesmo depois de morto, feito uma metáfora de aviso, estou e estaremos de olho no trabalho oficial para que seja mais humanitária e menos reprodutora de injustiças dos países dominantes, do poderio financeiro e bélico deles, e criem efetivamente mecanismos de reprodução de riquezas e lutem contra oligarquias e monopólios que aumentam injustiça, geram a miséria e obtém lucros com a fome;
03)-Minha orelha direita deverá ser exposta no mais alto patamar de Itararé, minha aldeia natal, Santa Itararé das Artes, para ali poder ouvir, sentir e captar as vozes todas do ambiente, céus, rios, florestas, chuvas e espaços geofísicos naturais que me permitam estar simbolicamente atento ao clamor dos sentidos da vida em seu mais puro habitat humanizado;
04)-Meu fígado deverá ser embalado a vácuo e enviado ao bairro do Bixiga em Samparaguai, como um representante ético-humanista de boêmio pela própria natureza, e deverá assim estar sempre ao lado do que representa a vox populi da fauna notívaga e assim então poder ser acalentado pelas vozes dos artistas de rua, de bares e de tantos forfés em contentezas e prazeiranças da área etílica, pois, como disse o Chico Buarque de Hollanda, a seco, ninguém segura esse rojão;
05)-Meu coração de Andorinha será enterrado no Cemitério Lágrimas do Céu de Itararé, no mesmo túmulo de minha Mãe Eugenia, e ao lado dele brotarão flores de lágrimas, em memória de quem me deu a vida, e também em memória de meu pai Maestro Antenor que me deu inspiração, e também das pessoas que amei e partiram primeiro, e que me foram a razão de lutar, de ser e de sobreviver;
06)-Meu polegar esquerdo será enviado virado pra baixo, para as pessoas ou instituições que maltratarem animais, no sentido de expressar minha tristeza, meu protesto e meu gesto negativo contra todas as formas de deterioração de vida, inclusive da vida humana banalizada pelo consumo insano e dentro das infovias efêmeras a hipocrisia do ter valendo mais do que o Ser:
07)-Meu polegar direito deverá ser enviado à entidade, instituição, associação ou núcleo humanista que mais fizer em prol da vida, da defesa da vida, das causas sociais, da vida com compromisso ético e sócio-inclusivo, do humanismo enquanto defesa da liberdade, da democracia, da cultura para todos, pois a gente não só quer só comida, a gente quer prazer, diversão e arte como libertação;
08)-Meus pés serão transformados em ornamento, como um símbolo de busca de evolução, de aprimoramento espiritual, de sentido filosófico-existencialista ao verbo caminhar, pois somos, estamos e permanecemos, no sentido da grande busca que é a paz para todos, a provisão de luz para os espíritos viajosos carentes na espiritualidade do arco-íris atrás da estrada de tijolos amarelos, e contra todas as formas de opressão e mesmo do estado ineficaz em dezelo público;
09)-Meu dedo indicador será apontado contra as potências que fazem dos armamentos as piores formas de opressão, de domínio, buscando poder com sangue, destruindo vidas humanas em favor de estados bélicos, e será sempre inquisidor em sentido da busca pela paz no mundo, paz com justiça e pão, paz com justa distribuição de renda, paz em que não haja mais fronteiras, bandeiras, estados de guerra, como muito bem cantou John Lennon;
10)-Minha pele de Itarareense boêmio pela própria natureza, será transformada em produtos de couro, para num sentido lembrar sempre ao mundo que a pele de todos os animais ou do próprio ser humano são a mesma coisa; devemos preservar todas as vidas no planeta terra, em nome de uma sobrevivência conciliadora como o sonho de Shangri-lá, de Pasárgada ou de uma Jerusalém Celeste, em que o leão paste com o cordeiro, todas as vozes se unam, sejamos todos irmãos e todos por todo, na alegria e na tristeza;
11)-Dos meus ossos então finalmente queimados serão feitos cinzas, em memória de Luther King, de Gandhi, de Maiakovski e de outros mitos que foram mortos ou se mataram por causa da fé, pela loucura de compreender e humanizar a vida como um todo; contra a opressão de qualquer tipo ou em nome de Deus, religião ou situação emergencial, e para que todos saibam que somos todos iguais, voltaremos ao pó, e em memória dos que cantaram o amor ao próximo, o amor à vida, ou à arte, e assim finalmente ficarão minhas cinzas para comporem o sagrado corpo de terra, a serem atiradas na curva do Rio Itararé, o rio que banha a minha aldeia-ninhal, o mais belo rio que banha o meu berçário-raiz;
12)-Meus cadernos de rascunhos, já perto de mil, quantos forem à época de minha travessia, deverão ser doados ao núcleo de filosofia ou de letras da USP-Universidade de São Paulo, para estudos, pesquisas, acertos, tentas edições possíveis e abertas, e todos os proventos de percurso, além de sustentarem uma fundação cultural de Itararé, Cidade Poema, terão seus direitos reservados para serem providos a instrumentalizações de inclusão social, defesa da vida, do meio ambiente, da auto-sustentabilidade que essa instituição precisa e deve em meu nome e historial representar;
13)-Meus restos, por fim, o que restar ao final de tudo, nessa empreita, plantem em vasos de flores e deixem pelas ruas de cacau quebrado de Itararé, terra-mãe, meu reino encantado, para que um aqui e um ali, leve para si, para seu canto, para seu lar, para o seu sonho, as pétalas de meu lado sentidor, proseador, meu lado sobrevivente, porque, afinal de tudo, apesar de tudo, a maior vingança é ser feliz, e só somos felizes mesmo quando todos possam ter o que comer, haja justiça transparente e o direito de protestar contra tudo e contra todos seja sagrado, pois, afinal, já disse o poeta, o importante é que a emoção sobreviva, e o amor é comunitário e serviçal.
E tenho dito – está escrito: Maktub
– Itararé/Sampa/31/10/2010
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Poeta Silas Correa Leite - E-mail: poesilas@terra.com.br - Site
www.portas-lapsos.zip.net
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