quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Artigo/ Os professores e o vaticínio de Delors


Os professores e o
vaticínio de Delors

               Fabio Arruda Mortara*

Ao emergir de uma das mais graves crises econômicas da história, a presente civilização não pode continuar postergando a solução de seus gargalos, em especial as prioridades sociais. Afinal, não haverá solução definitiva para a humanidade ascender ao círculo virtuoso inserido em uma economia sustentável, num mundo ainda permeado de bolsões de miséria e exclusão. Por isso, educação e leitura são prioridades absolutas. Nada mais tem tamanho poder transformador!
 Assim, temos de nos envergonhar muito com os dados da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), de que, em todo o mundo, cem milhões de crianças continuam fora da escola e quase um bilhão de pessoas são analfabetas. Este flagelo, na América Latina e no Caribe, atinge 39 milhões de adultos. Os números, obviamente, conspiram contra os Objetivos do Milênio na área do ensino, estabelecidos pela ONU para 2015. 
No Brasil, a situação também é grave. Temos um dos piores índices de alfabetização da América Latina, atrás de nações como Bolívia, Suriname e Peru. É o que se pode depreender por meio do cruzamento de dados do último Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) com o ranking do analfabetismo da região. Com índice de 10%, nosso país é o 15º colocado. A relação é liderada por Cuba (taxa de 0,2%). O lanterna é o Haiti (37,9%).
         Corrobora esse complexo cenário, a pesquisa "Juventude e Políticas Sociais no Brasil", realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea): a distorção idade-série é um dos maiores problemas na área educacional brasileira. Quase 34% dos jovens de 15 a 17 anos continuam no Ensino Fundamental, quando deveriam estar cursando o Médio. Na faixa etária de 18 a 24 anos, apenas 12% estão no nível adequado, ou seja, o Ensino Superior. Nessa mesma faixa etária, mais de 30% já abandonaram os estudos. Na população de 25 a 29 anos, apenas 13% seguem estudando, sendo que 7% encontram-se na educação superior.  Acrescente-se ainda a esses vergonhosos indicadores o expressivo número de analfabetos funcionais, ou seja, aqueles que apenas escrevem seus próprios nomes.
         É preciso mudar essa realidade! Educação e leitura são essenciais para que os indivíduos alcancem a cidadania, tenham participação plena em suas comunidades, melhores condições de saúde, engajamento político e melhores oportunidades de trabalho. Enfim, para que se alcance a democracia plena.  Prova disso é a pesquisa internacional Education at a glance (Panorama da Educação), da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). O estudo comprova que, na maioria dos países ricos ou emergentes, a renda dos profissionais é 50% maior para os que concluem o Ensino Superior. No Brasil, esse índice é ainda mais expressivo, excedendo a 100%.
         Portanto, não podemos continuar sonegando o direito inalienável à leitura, que será garantido apenas quando houver  educação universal de excelência. Considerando não haver mais falta de vagas nas escolas públicas, resta aos brasileiros promover a melhora na qualidade do ensino gratuito. Tal conquista somente será possível a partir da valorização e de melhores condições de trabalho para o Magistério. O vislumbre de tal perspectiva é a homenagem mais pertinente a ser feita neste Dia do Professor (15 de outubro).
A sociedade agradece, pois é no reconhecimento aos docentes e na certeza do papel fundamental que desempenham, que se consubstancia o vaticínio de Jacques Delors, ex-presidente da Comissão Européia e coordenador da Comissão Internacional da Unesco sobre Educação para o Século XXI: "O ensino surge como um trunfo indispensável à humanidade na construção dos ideais da paz, da liberdade e da justiça social. Só ele conduzirá a um desenvolvimento mais harmonioso e autêntico, de modo a fazer recuar a pobreza, a exclusão social, as incompreensões, as opressões e as guerras".

*Fabio Arruda Mortara, M.A., MSc., empresário, é presidente da Regional São Paulo da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf).
  

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