POR MARLI GONÇALVES
Olha, por favor, não me levem a mal. Não estou querendo criticar ninguém ou mesmo demover ninguém de suas atividades cívicas, físicas, morais, políticas ou de lazer. Mas é que a coisa está ficando meio perdida demais e sem sentido, e a turma anda fazendo tantas manifestações, de tantos tipos, horários, públicos, que está mais é se dispersando. Aí nada acontece e todo mundo fica com a cara de decepção, chorando pelos cantos dos comentários dos sites, xingando-se uns aos outros. E a corrupa correndo solta.
Tive um ataque de preguiça no feriado de 7 de setembro. Tinha grito, marcha, parada, andada, caminhada, passeata, mobilização, passeio, encontro, pulinho, rendez-vous, juntamento, movimentação - de um tudo - na programação. Em São Paulo, o lugar era um só, a Avenida Paulista. Mas os horários, trajes, maquiagens, motivos, idades, eram diferentes. Teve até matinê. Faltou só que tivesse sido lá também o desfile militar, para a coisa ficar mais completa e animada. Ou preta de vez.
Acabou que eu não fui a nenhuma. Vi, de longe, só uma delas, indo bem, fechando o trânsito, tom oficial, comportada, regulamentar, formal, quase burocrática. Foi-se o tempo em que sabíamos e, ao menos, conseguíamos protestar com vontade, força, criatividade e energia. Éramos ouvidos em todo mundo. Sinceramente, das últimas que lembro que deram resultado foram lá nos idos tempos do Collor, com os caras-pintadas. E olha que ali já dependíamos da energia dos estudantes, tão estupefatos estávamos. Movimentação que se preze tem de juntar todo mundo: homens, mulheres, velhos, crianças, pobres, ricos, cachorros, de raça e viralatas, periquitos, parar tudo, se fazer ouvir de verdade.
Mas, para tanto, tem de ter uma chamada verdadeira, não de um só partido. Não só de alguém querendo apenas se destacar nas tais redes chatamente chamadas de sociais, tentando só aumentar o número de seguidores e, quem sabe, conseguir um patrociniozinho?
Gente, juro: agora até o pessoal do PT está convocando manifestação, quase que exclusiva, contra... a revista Veja!
Sempre amei participar e acredito seriamente que é nas ruas que a "coisa pega", vide mundo atual. Só fico preocupada se o pessoal não acha que já está participando só porque não para de batucar as pretinhas dos computadores o dia inteiro, "curtindo", "compartilhando", dizendo que "vai" no plano virtual que aceita tudo, mais do que o papel. As caixas postais acordam e dormem lotadas (os insones são bastante participativos). Fala-se de tudo, até do que não é verdade, ou é antigo do tempo do Matusalém. São ciclos que se repetem, repassados. O que já li de bobagens de toda sorte - como se não houvesse tanta coisa séria e grave a ser combatida - e as pessoas ainda justificam: "estou só repassando".
Enquanto isso, no Planalto Central e em todas as esferas o pessoal domanda ver se diverte com a ingenuidade. As notícias passam. Não gruda nos caras, porque amanhã tem mais, muito mais. Milhões e bilhões se confundem como se fossem iguais, com licitações fraudadas, presos e soltos, com algemas ou não, e as malditas declarações públicas que não dizem nada, apenas mostram as caras de tacho.
Quer ver? Já se passaram duas semanas do desastre do bondinho de Santa Teresa. O secretário de Transportes do Estado do Rio de Janeiro, o empoado e empolado Julio Lopes, que eu saiba, ainda está lá. O gomalina resolveu dizer que a culpa era do coitado do motorneiro. Que devia, sei lá, ter freado aquela geringonça mal conservada, talvez com os dentes. Mas, não, ele morreu. O caso também. Fora o fanfarrão que governa o pedaço, lá no Rio, cabralzinho até não poder mais, e que é melhor nem detalhar as bobagens que faz e diz - claro, quando está aqui e não voando por aí, casando e descasando da própria esposa. Hummm. Pacificados, é?
Mais? Sabe da última? O senhor senador José Sarney, com pouco para fazer no Maranhão e pelo Maranhão, para dizer o mínimo, quer trocar o nome do aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Que dar o nome de Romeu Tuma - é, ele mesmo, o policial sobre o qual não vou falar, porque já foi. Mas também não preciso dizer o que acho da ideia.
Pensa que acabou? Soube do roubo do Banco Itaú? Foi num sábado, à noite, numa agência de um local, Avenida Paulista (mais uma vez), que só não é mais movimentado do que o Maracanã em dia de Fla X Flu? Pois até eusoube antes do secretário de Segurança de São Paulo, o Sr. Ferreira Pinto, aquele que faz cara de bravo, muito bravo, informado só DEZ dias depois. Os caras fizeram barba, cabelo e bigode, passaram horas "trabalhando" no local e até lanche pediram. Os milhões perdidos estavam guardados por dois coitados, vigias. Tipo parafernálias de segurança que dependem de um porteiro ficar ao lado, passando o cartão para destravar, senão... E ele, o bravo, continua no posto, meus amigos!
Sentadinhos em suas cadeirinhas. A corrupção, especialmente, corrói como cupim as contas e as coisas públicas. Nada sai do papel, às vezes nem com ela, que não gostam de gastar nem para nos enganar.
Como sempre lembro: alegria! Vai ter Copa. E Olimpíadas. A proposta é: vamos marcar uma data, nacionalmente. Escolher um inimigo, um que seja mais comum que os outros.
Meu voto é que seja contra a corrupção. Ou contra a violência que beira o inaceitável, com a vida valendo nada, nadica. Cada um escreve uma cartolina, a mão, espontânea. Na ocasião podemos cantar o Hino Nacional, tudo bem. Mas vamos fazer como quando queríamos as eleições diretas e aprontamos uma muvuca danada, um barulho que não deu para ser calado. O principal: vamos propor soluções, apoiar as que forem viáveis, abrir o peito, que seja para botar uma camiseta e algum slogan.
Mas, pelo amor de Deus! Vamos caminhar juntos. Aí eu vou.
Tive um ataque de preguiça no feriado de 7 de setembro. Tinha grito, marcha, parada, andada, caminhada, passeata, mobilização, passeio, encontro, pulinho, rendez-vous, juntamento, movimentação - de um tudo - na programação. Em São Paulo, o lugar era um só, a Avenida Paulista. Mas os horários, trajes, maquiagens, motivos, idades, eram diferentes. Teve até matinê. Faltou só que tivesse sido lá também o desfile militar, para a coisa ficar mais completa e animada. Ou preta de vez.
Acabou que eu não fui a nenhuma. Vi, de longe, só uma delas, indo bem, fechando o trânsito, tom oficial, comportada, regulamentar, formal, quase burocrática. Foi-se o tempo em que sabíamos e, ao menos, conseguíamos protestar com vontade, força, criatividade e energia. Éramos ouvidos em todo mundo. Sinceramente, das últimas que lembro que deram resultado foram lá nos idos tempos do Collor, com os caras-pintadas. E olha que ali já dependíamos da energia dos estudantes, tão estupefatos estávamos. Movimentação que se preze tem de juntar todo mundo: homens, mulheres, velhos, crianças, pobres, ricos, cachorros, de raça e viralatas, periquitos, parar tudo, se fazer ouvir de verdade.
Mas, para tanto, tem de ter uma chamada verdadeira, não de um só partido. Não só de alguém querendo apenas se destacar nas tais redes chatamente chamadas de sociais, tentando só aumentar o número de seguidores e, quem sabe, conseguir um patrociniozinho?
Gente, juro: agora até o pessoal do PT está convocando manifestação, quase que exclusiva, contra... a revista Veja!
Sempre amei participar e acredito seriamente que é nas ruas que a "coisa pega", vide mundo atual. Só fico preocupada se o pessoal não acha que já está participando só porque não para de batucar as pretinhas dos computadores o dia inteiro, "curtindo", "compartilhando", dizendo que "vai" no plano virtual que aceita tudo, mais do que o papel. As caixas postais acordam e dormem lotadas (os insones são bastante participativos). Fala-se de tudo, até do que não é verdade, ou é antigo do tempo do Matusalém. São ciclos que se repetem, repassados. O que já li de bobagens de toda sorte - como se não houvesse tanta coisa séria e grave a ser combatida - e as pessoas ainda justificam: "estou só repassando".
Enquanto isso, no Planalto Central e em todas as esferas o pessoal domanda ver se diverte com a ingenuidade. As notícias passam. Não gruda nos caras, porque amanhã tem mais, muito mais. Milhões e bilhões se confundem como se fossem iguais, com licitações fraudadas, presos e soltos, com algemas ou não, e as malditas declarações públicas que não dizem nada, apenas mostram as caras de tacho.
Quer ver? Já se passaram duas semanas do desastre do bondinho de Santa Teresa. O secretário de Transportes do Estado do Rio de Janeiro, o empoado e empolado Julio Lopes, que eu saiba, ainda está lá. O gomalina resolveu dizer que a culpa era do coitado do motorneiro. Que devia, sei lá, ter freado aquela geringonça mal conservada, talvez com os dentes. Mas, não, ele morreu. O caso também. Fora o fanfarrão que governa o pedaço, lá no Rio, cabralzinho até não poder mais, e que é melhor nem detalhar as bobagens que faz e diz - claro, quando está aqui e não voando por aí, casando e descasando da própria esposa. Hummm. Pacificados, é?
Mais? Sabe da última? O senhor senador José Sarney, com pouco para fazer no Maranhão e pelo Maranhão, para dizer o mínimo, quer trocar o nome do aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Que dar o nome de Romeu Tuma - é, ele mesmo, o policial sobre o qual não vou falar, porque já foi. Mas também não preciso dizer o que acho da ideia.
Pensa que acabou? Soube do roubo do Banco Itaú? Foi num sábado, à noite, numa agência de um local, Avenida Paulista (mais uma vez), que só não é mais movimentado do que o Maracanã em dia de Fla X Flu? Pois até eusoube antes do secretário de Segurança de São Paulo, o Sr. Ferreira Pinto, aquele que faz cara de bravo, muito bravo, informado só DEZ dias depois. Os caras fizeram barba, cabelo e bigode, passaram horas "trabalhando" no local e até lanche pediram. Os milhões perdidos estavam guardados por dois coitados, vigias. Tipo parafernálias de segurança que dependem de um porteiro ficar ao lado, passando o cartão para destravar, senão... E ele, o bravo, continua no posto, meus amigos!
Sentadinhos em suas cadeirinhas. A corrupção, especialmente, corrói como cupim as contas e as coisas públicas. Nada sai do papel, às vezes nem com ela, que não gostam de gastar nem para nos enganar.
Como sempre lembro: alegria! Vai ter Copa. E Olimpíadas. A proposta é: vamos marcar uma data, nacionalmente. Escolher um inimigo, um que seja mais comum que os outros.
Meu voto é que seja contra a corrupção. Ou contra a violência que beira o inaceitável, com a vida valendo nada, nadica. Cada um escreve uma cartolina, a mão, espontânea. Na ocasião podemos cantar o Hino Nacional, tudo bem. Mas vamos fazer como quando queríamos as eleições diretas e aprontamos uma muvuca danada, um barulho que não deu para ser calado. O principal: vamos propor soluções, apoiar as que forem viáveis, abrir o peito, que seja para botar uma camiseta e algum slogan.
Mas, pelo amor de Deus! Vamos caminhar juntos. Aí eu vou.
(*) Marli Gonçalves é jornalista. Desde muito jovem participa de tudo quanto é movimento. Foram horas e horas gastas em reuniões e, garanto, muitas valeram a pena para poder chegar até aqui com muito orgulho. Eu fui.
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marli@brickmann.com.br
marligo@uol.com.br
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