Em
1967, a
ONU e UNESCO declararam o dia 8 de setembro como o Dia Internacional da
Alfabetização, tendo como objetivo despertar a consciência da comunidade
internacional para a responsabilidade de fazer valer o direito ao
desenvolvimento pleno e à educação de qualidade que todo cidadão
tem.
Em âmbito
educacional e como proposta de reflexão, algumas questões tornam-se importantes:
O que significa comemorar esta data quando se pensa em tantos contextos onde o
índice de analfabetismo supera as expectativas e metas educacionais? Qual a
importância das competências leitora e escritora para a vida da pessoa? Quais os
apelos que se fazem ao comemorar o dia Mundial da
Alfabetização?
Do ponto de vista
comportamental da aprendizagem, por muito tempo e ainda presente em algumas
práticas pedagógicas, a alfabetização é considerada como um processo cumulativo
de informações baseado na cópia, na repetição e na memorização das
correspondências fonográficas, as quais levam a pessoa a desenvolver a
compreensão do funcionamento do sistema de escrita alfabética, quase de forma
mecânica.
Porém, quando
esta concepção vem associada à visão da psicologia e da linguística, nota-se a
necessidade de superar o que é meramente mecânico para assumir o processo de
alfabetização como uma realidade contextualizada e dinâmica, confirmando o
princípio de Paulo Freire, ao afirmar que “ler não se esgota na decodificação
pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, pois a leitura do mundo antece
a leitura da palavra”.
O esforço para
explicar o processo de alfabetização provocou o surgimento de inúmeras
metodologias e estratégias com o objetivo de instrumentalizar as pessoas e
capacitá-las para decodificar os símbolos gráficos, como se isto bastasse para
tranquilizar a sociedade e os educadores, convencidos de estarem cumprindo os
seus papéis a partir do momento em que “ler e escrever” fossem de domínio de
todos. Este é apenas o ponto de partida, importante para diminuir a
discriminação que ainda existe entre os “alfabetizados = letrados” e os
“analfabetos = ignorantes”. Mas não o suficiente para acomodar a nossa
consciência de educadores e cidadãos!
Sob a ótica da
Declaração dos Direitos Humanos, mais do que “ser instruído para o domínio da
leitura e da escrita”, ser alfabetizado é um direito orientado para o pleno
desenvolvimento da personalidade humana, capaz de promover a compreensão, a
tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, em
prol da manutenção da paz. (cfr. Declaração Universal dos Direitos Humanos –
Artigo XXVI)
Portanto, ao
comemorar o Dia Mundial da Alfabetização, mais do que evidenciar e anunciar os
números e os índices de analfabetismo no Brasil e no mundo, que não são poucos,
torna-se imprescindível refletir em todos os setores da sociedade, que o maior
desafio não está no letramento, mas na formação de pessoas competentes na
leitura e na escrita do contexto existencial da vida, muitas vezes
contraditório, com respostas incoerentes e tremendamente vazias de valores e
princípios.
Alfabetizar
tecnicamente é fácil, principalmente porque, não obstante às condições
socioeconômicas, as nossa crianças trazem um repertório infinitamente rico.
Difícil e desafiador é alfabetizar no sentido amplo, pois é este que promove a
reflexão e a mudança dos aspectos estruturais da prática educacional e dos seus
fundamentos.
Enfim, os
princípios descritos nos PCNs – Parâmetros Curiculares Nacionais da Educação
Básica, sintetizam os objetivos e a importância do Dia Mundial da Alfabetização
como oportunidade de novas ações educacionais, e reforçam a missão e a função da
Escola e dos Educadores no processo de alfabetização dos seus alunos, assumindo
o compromisso de formá-los em valores humanos, dando-lhes todas as condições
para serem sujeitos transformadores do meio no qual estão inseridos, preocupados
com as questões éticas, políticas e sociais:
“Para
formar cidadãos capazes de compreender os diferentes textos com os quais se
defrontam, é preciso organizar um trabalho educativo de modo a permitir que
experimentem e aprendam isso na escola, principalmente se os alunos não têm um
contato sistemático com bons leitores. Quando não participam de práticas em que
ler é indispensável, essa pode ser a única oportunidade de esses alunos
interagirem com textos cuja finalidade não seja apenas a resolução de problemas
do cotidiano”.
Que este dia
traga para todos, novas e eficazes ações, mas especialmente atinja aos muitos
que ainda não gozam do direito de ser alfabetizado.
Ros Marie
Martiniak Closs – Psicóloga e Pedagoga
Coordenadora
Pedagógica
Colégio
Franciscano Nossa Senhora do Carmo – Vila Alpina -
SP
São Paulo, setembro de
2011.
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