quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Por que o adolescente precisa desafiar o adulto

 
Por Bruno Weinberg*
Tornar-se adulto não é uma tarefa fácil. Pelo contrário, envolve muitos descobrimentos e transformações cheios de sensações conflitantes: dor, alívio, sofrimento, alegria, tristeza etc. A passagem da infância para a vida adulta, a adolescência, é uma grande aventura cheia de desafios, enigmas, turbulências, angústias e medos. É uma etapa fundamental e saudável do processo de crescimento.

A questão central do adolescente é a busca do Eu. Num primeiro momento, sua função principal é a de se contrapor ao conhecido: a família. Ser eu é não ser você. Já que nega a família, busca no grupo de pares os contornos que procura. Fortalece, assim, algo diferente do conhecido. Mais tarde, essas questões mudam e ele pode se identificar com a família, seus valores e outras características.

Esta etapa de vida é angustiante, pois ele se vê diante de um futuro que não sabe o que vem. O que ficou para trás não serve e o que vem pela frente ele não sabe se vai ser capaz. Então, o adolescente começa a questionar sua vida, as pessoas que estão a sua volta, os seus valores e princípios.

Escutamos com frequência de pais e de professores a queixa de estarem sendo testados o tempo todo pelos adolescentes. De fato, eles nos fazem passar por situações que desafiam nossos limites. Situações como estas nos deixam irritados, nervosos e até mesmo perdemos a paciência. É isso mesmo o que ele quer: saber até quando aguentamos suas provocações.

Devemos ter claro que determinados comportamentos não são tolerados. Isso não quer dizer que ele é rejeitado, mas, sim sua atitude. Existe uma grande diferença entre "isto que você fez é horrível" e "você é horrível". Horrível é a atitude tomada e não a pessoa. Os adolescentes devem saber que os pais estão lá como uma proteção, um "paraquedas", em que ele pode contar no momento da necessidade.

Os pais acabam, também, virando "saco de pancadas". Sobreviver aos ataques e tolerar apenas as atitudes aceitáveis dependerá dos adultos, que com isso contribuirão para seu crescimento saudável. Não é uma trabalho fácil. Ao contrário, é difícil estar neste papel.

Em casa ou na escola, muitos conflitos surgem quando o adulto não sabe quais são seus limites. Um pai ou professor, por exemplo, permite em alguns momentos que seu filho ou aluno o chame de b#%!@ e ri com isso. Em outros, se irrita com este chamado e dá a maior bronca no menino. O que será que ele pensa a respeito disso? Posso ou não posso chamá-lo desse jeito? Na escola ou em casa ser pai ou professor é diferente de ser amigo; e é aí que muitos problemas começam.

Também é comum professores novos serem submetidos por uma turma a esses desafios. Apenas quando conseguem posicionar-se, a turma os acolherá e respeitará. Caso contrário, estes professores terão grandes chances de fracassar nos seus objetivos.

Ter um filho adolescente é um desafio não só para o filho, mas para os pais que, além de se transformarem, têm que repensar seu papel. Ser "saco-de-pancadas", "paraquedas", não é nada fácil, mas fundamental para o desenvolvimento do filho. Se saírem desta etapa, todos sairão enriquecidos.

Ser pai é uma tarefa árdua, com desafios constantes, mas que gera crescimento.


*Bruno Weinberg é psicólogo e orientador educacional do Colégio I.L.Peretz, em São Paulo.

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