quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Fascismo: a grande novidade política do século XX



Por Alcides Leite*

O termo fascismo tem origem na palavra italiana fascio, que significa feixe. O símbolo do fascismo italiano era um machado envolto por um feixe de varas. Este símbolo vinha do Império Romano e representava a autoridade e coesão do Estado.

O Fascismo foi a grande novidade política do século vinte. Outras correntes políticas, como aquelas baseadas no conservadorismo, liberalismo e socialismo, já atuavam, de forma consolidada, nas últimas décadas do século dezenove. Nesta época, a grande maioria dos analistas políticos sequer imaginava que um movimento como o fascismo poderia surgir e ganhar corpo em um momento em que a democracia se fortalecia na maior parte dos países europeus. Friedrich Engels, companheiro de Marx, no prefácio da edição de 1895 do livro “A Luta de Classes na França”, afirmara: “no final do século dezenove nós conquistaremos a maior parte da classe média, dos pequenos governos e dos operários, e aumentaremos o poder no campo (....) não há outro caminho para os conservadores senão romper a ordem democrática.”

Além de inesperado, o fascismo teve outra característica surpreendente: uma data de nascimento bem definida. No dia 23 de março de 1919, no salão da Aliança Comercial e Industrial, na Praça do Santo Sepulcro em Milão, sob o comando de Benito Mussolini, uma centena de pessoas se reuniu para fundar o movimento. Faziam parte do grupo veteranos da primeira Guerra Mundial, sindicalistas e intelectuais nacionalistas.

O programa fascista apresentava pontos considerados avançados para a época, como a defesa do voto feminino e do voto aos dezoito anos, o fim da monarquia, a jornada diária de oito horas de trabalho, a participação dos trabalhadores na gestão das empresas, a parcial expropriação de toda espécie de riqueza por meio de uma pesada taxação sobre o capital e a limitação das propriedades da Igreja.

A ascensão política do fascismo foi meteórica. Pouco mais de três anos após sua fundação, o partido já conquistara o poder central na Itália. Na Alemanha, o fascismo, comandado pelos nazistas, chegou ao poder onze anos depois. Em ambos os países contou como forte apoio popular e com financiamento dos maiores empresários locais. Sem o apoio da maioria da população e, sobretudo, das lideranças políticas, sociais e da burocracia do estado, o fascismo não teria conseguido se estabelecer por tanto tempo no poder. A situação de descrédito nas instituições liberais, a crise econômica do pós-guerra e a decadência dos partidos políticos tradicionais contribuíram para o fortalecimento dessa corrente.

Ao contrário dos socialistas e liberais, os fascistas jamais se colocaram como defensores de uma ideologia definida. Eles contavam com a liderança e voluntarismo de seus expoentes. Robert Paxton, um dos principais historiadores do tema, em seu livro “A Anatomia do Fascismo” diz: “O fascismo estava mais ligado a mobilizar as paixões que moldassem a sua ação, do que a uma bem articulada filosofia. Na base estava o apaixonado nacionalismo, aliado à conspiratória e maniqueísta visão da história como uma batalha entre o bem e o mal, entre o puro e o impuro, na qual a própria comunidade ou nação é a vítima. O fascismo no poder é um composto, um poderoso amálgama de diferentes, mas misturáveis, ingredientes conservadores, nacional-socialistas e radical-direitistas, unidos pelos inimigos e paixões comuns com a finalidade de regenerar, energizar e purificar a nação, ao custo das instituições livres e do estado de direito”.

Mesmo não contando com uma ideologia definida, o fascismo apresentava características que foram estudadas anteriormente por importantes pensadores. Nietzche havia atacado o moralismo complacente e conformista dos burgueses em nome de uma forte e pura independência de espírito. Ele idealizara um super-homem de espírito livre, libertador, independente das crenças. Gustave Le Bon tinha escrito o famoso livro “A Psicologia das Massas”, que mostrava que o coletivo poderia ter comportamento diferente dos seus componentes, tomados individualmente. A massa, portanto, poderia ser facilmente manipulada. Freud descobrira o poder do subconsciente no processo de pensamento humano, enfraquecendo o pensamento liberal sobre a independência racional das pessoas. A teoria da evolução de Darwin contribuiu para justificar a existência de raças privilegiadas, tese grata aos nazistas. Francis Galton, primo de Darwin, havia desenvolvido a eugenia, que propagava a seleção dos melhores indivíduos como reprodutores. Durkheim verificara ser a sociedade moderna uma massa sem laços sociais que trocou a solidariedade orgânica (laços formados dentro das comunidades, da família e da igreja), pela solidariedade mecânica (laços formados pela comunicação moderna da propaganda e da mídia).

No livro citado acima, Robert Paxton define algumas característica importantes do fascismo. Diz ele: “O fascismo pode ser definido como uma forma de comportamento político marcado pela preocupação obsessiva com o declínio, a humilhação e o vitimismo da comunidade e pela compensatória cultura da unidade, energia, e pureza, na qual um partido popular, formado de comprometidos militantes nacionalistas trabalhando em efetiva colaboração com as elites tradicionais, abandona as liberdades democráticas e persegue com violência redentora e sem ética ou restrição legal, objetivos de limpeza interna e expansão externa”.

Embora tenha deixado tristes e profundas marcas na primeira metade do século vinte, o fascismo não pode ser considerado um fenômeno isolado. Esta forma de autoritarismo encontra-se inoculada no organismo social. Sem uma contínua vigilância, o enfraquecimento da democracia, motivado por crises econômicas e morais, pode criar as condições para que o vírus do fascismo volte a se manifestar e a se fortalecer sob uma nova roupagem. A lição da história deve nos manter alertas para que nunca mais se repita as terríveis experiências fascistas, sobretudo sob a forma repudiável do nazismo.


* Alcides Leite é economista e professor da Trevisan Escola de Negócios

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