quinta-feira, 23 de junho de 2011

Pressão sobre as escolas

Em recente artigo na Revista Veja com o título "Pra pobre analfabeto... tae kwon do!" Gustavo Ioschpe relata sua observação em relação a escolas que visitou com equipe de reportagem de uma emissora em diversas partes do Brasil.
Discorre sobre muitas delas, comparando as ações das que são boas com as que são ruins. Conclui com a seguinte anotação a título de Post Scriptum:
"P.S. As escolas públicas do país deveriam ser obrigadas por lei a pôr seu Ideb em placa de 1 metro quadrado ao lado da porta principal, em uma escala gráfica mostrando sua nota de zero a 10. Na placa deveria aparecer também o Ideb médio do município e do estado. A maioria dos pais e professores hoje não sabe se a escola do filho é boa ou ruim, e, se esperarmos que consultem o site do MEC, seremos o país do futuro por mais muitas gerações. Mande um e-mail para seu deputado e exija essa lei."
Pessoalmente enviarei ao jornalista um email e não a deputado algum, pelo que abaixo expomos.
De fato nada contra a apresentação dos indicadores da escola. Apenas que, desse modo parecerá que todas as outras escolas estão bem e só aquela que não. Quando um Estado como São Paulo apresenta historicamente rendimento escolar abaixo da crítica, indicaria o bom senso que esse não seja um problema de direção, corpo docente dessa ou daquela escola, mas de um sistema. Sugerir que se faça pressão para coagir as escolas a se mexerem, requer antes alguns elementos:
1- Corpo docente qualificado e com dedicação exclusiva;
2-Salários que não obriguem a que o professor acumule empregos para poder sobreviver;
3- Corpo docente estável na mesma escola;
4- Condições de atualização dos professores e tempo para planejamento semanal;
5- Proposta curricular de longa duração;
6- Material pedagógico adequado às condições dos alunos;
7- Pessoal de suporte técnico (psicólogo, assistente social) capaz de enfrentar a realidade das crianças em situação de risco;
8- Legislação que exija o comparecimento dos pais na escola.
Além de algumas observações que o próprio articulista declinou:
1- gestão que oriente e dê sentido ao todo (de fato, isso se mostra na Proposta Pedagógica da escola construída coletivamente)
2- envolvimento da direção
3- organização
4- material didático como base das aulas
5- avaliação constante (e acrescentaríamos, elaborada po objetivos e voltada para diagnóstico e não apenas para os resultados).

O autor, entretanto, não analisa que as escolas ditas 'boas' têm algum diferencial que não foi perceptível ou que não tenha sido relatado e por isso, acabe distorcendo a observação.
Há escolas que possuem parcerias - empresas ou pessoas que investem recursos próprios- e que com o tempo passam a ter rendimento melhor que a média das escolas. Há escolas em que os professores recebem um percentual a mais de salário (20%) em virtude da localização e isso serve como atrativo para profissionais melhor pontuados, mais experientes. Há escolas que juntam outros fatores, como 'proteção' de órgãos setoriais que indevidamente favorecem com recursos, meios, materiais, reformas. Há escolas com professores concursados, efetivos e que permanecem por longo tempo nela. Há, em contrapartida, as que são deliberadamente prejudicadas.
Então, divulgar só índices, não adianta e nem é justo. Não adianta porque os pais que não se incomodam com a vida escolar de seus filhos, não darão importancia a isso. Os que dariam importância, por outro lado, passariam a desacreditar e nem sempre com alternativa para matricular os filhos em outra escola, ou, ficariam aflitos mas sem saber dos promenores que levaram aquela escola a essa situação.
E ainda, um desafio. Visite uma escola e volte a ela daqui 10 anos. Diríamos que em cerca de 90% dos casos, a situação terá mudado e não raro a escola se encontrará em precárias condições. Seja porque mudou o corpo docente, a direção, a relação com o órgão setorial, com a parceria ou mesmo, com a clientela.
Ao contrário do que dz o articulista, 'boas' escolas são oásis que por algum tempo conseguem aglutinar vários fatores que impulsionam seu trabalho. Se duvidar basta comparar os resultados do IDESP, ENEM, SARESP, IDEB, SAEB. Vejam-se os resultados divulgados a cada edição, quais as que se mantém entre as melhores? Mesmo tendo uma série histórica breve, há um movimento gangorra, um sobe e desce constante.
No passado, alunos do Roosevelt, Caetano de Campos, Campos Salles, São Paulo, Fernão Dias, Alexandre de Gusmão faziam vestibular para USP e assemelhados e eram aprovados e por esse indicador avaliava-se a qualidade do ensino. Qual a situação dessas escolas hoje? Durante algum tempo uma ou outra escola poderá se manter entre as mil melhores escolas do país, mas não se manterá para sempre. 
Parodiando um assessor de um programa televisivo, vendo a foto é uma coisa, vendo o filme é outra! Veja o filme Sr. Gustavo, veja o filme!  
Autor: Eduardo Paulo Berardi Jr. Postagem original em:

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