sábado, 14 de julho de 2007

Governo quer fundação para gerenciar saúde

Comp@s,

O governo federal já enviou para o Congresso PL, que visa repassar parte dos serviços públicos para terceiros, “facilitar” as licitações e acabar com a estabilidade dos servidores a serem contratados. Seus representantes, os Ministros da Saúde e do Planejamento, defendem o procedimento como se fossem prestidigitadores ou ilusionistas: mostram uma coisa e dizem que é outra. Além de tirarem direitos dos trabalhadores, tentam enganá-los. Vejam a matéria abaixo.

Um abraço,
William
14/07/2007.



Folha de São Paulo, 13 de julho de 2007 – 6ª feira.

Governo quer fundação para gerenciar saúde
Projeto de lei enviado ao Congresso permite contratação sob regras do setor privado, retirando, por exemplo, a estabilidade. Regra valeria para hospitais e outras áreas, como TV pública, ciência e tecnologia e previdência complementar de servidores públicos

ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal quer flexibilizar relações trabalhistas e regras de licitação em nove setores da administração pública, retirando, por exemplo, a estabilidade no emprego. A proposta foi enviada por meio de projeto de lei ao Congresso.
Ela abre caminho para regulamentar a administração de setores do Estado por meio de fundações de direito privado sem fins lucrativos. A regra valeria para hospitais e outras áreas como a TV pública, ciência e tecnologia e previdência complementar de servidores -em todos os casos, serviços não-exclusivos do Estado.
O projeto enfrenta resistência de sindicatos e de outros setores da área de saúde, pois permite a contratação de funcionários públicos sob regras do setor privado -retirando deles direitos tipicamente associados ao serviço público, como estabilidade.
Por outro lado, os contratados das fundações, que terão autonomia gerencial e orçamentária, não ficam submetidos ao teto salarial.
O governo argumenta que a mudança dará agilidade à gestão pública e irá premiar o servidor com bom desempenho.
As compras terão de obedecer à legislação sobre licitações públicas na contratação de serviços e compras de equipamentos. A fundação, porém, poderá editar regulamento próprio, com regras mais flexíveis.
"É preciso responder com rapidez na hora da compra de um equipamento ou da contratação de um especialista", afirmou o ministro da Saúde, José Gomes Temporão.
Após a votação da proposta pelo Congresso, o governo enviará projeto de lei específico para a criação de fundações para os hospitais.
A princípio, a proposta valeria para os dez que, hoje, são subordinados ao Ministério da Saúde -nove no Rio e um em Porto Alegre- e para os 48 hospitais universitários de instituições federais, mas poderá ser adotada também por Estados e municípios, totalizando cerca de 2.500 unidades.
Na semana passada, representantes do Consad (Conselho Nacional de Secretários de Estado da Administração) encontraram-se com o ministro José Gomes Temporão para manifestar seu apoio à idéia.
Na ocasião, Sidney Beraldo, secretário de Gestão de São Paulo, disse que a fundação estatal tem a simpatia do governo paulista, uma vez que eliminaria os questionamentos jurídicos à administração dos hospitais por meio das organizações sociais, que já detêm a gerência de alguns estabelecimentos de saúde no Estado.
Pela proposta do governo federal, enviada anteontem ao Congresso, o repasse de recursos às fundações estatais fica condicionado ao cumprimento de determinadas metas de gestão -nos hospitais públicos, isso corresponde a um determinado número de atendimentos e internações, por exemplo.
Os novos funcionários seriam contratados por meio de concurso público, mas em regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que vale para o setor privado. Parte da remuneração do servidor ficaria atrelada ao desempenho do estabelecimento de saúde, que só poderá atender pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
Para os funcionários públicos que já ingressaram na carreira, não haverá mudança.
Caso a proposta seja aprovada, o governo teria ainda de elaborar outros projetos de lei específicos para criar fundações para cada hospital ou conjunto de hospitais.
Temporão e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, rebateram os ataques dos críticos à proposta, que vêem nela um caráter "privatista".
"É um contra-senso. O próprio nome diz que a fundação é do Estado", afirmou o ministro Temporão.
Paulo Bernardo afirmou ainda que a lei complementar terminaria com "verdadeiras gambiarras" que, hoje, os hospitais universitários utilizam para contratar funcionários por meio de fundações de apoio privadas.

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