quinta-feira, 17 de março de 2011

PROMOTORES DA DESGRAÇA

GILBERTO NOGUEIRA DE OLIVEIRA
Nazaré, Bahia

O torturador insano,
Provoca a dor,
Sorri friamente
Para a vítima indefesa.
Tem seu nome protegido.
Então começa a cumprir
Sua nefasta missão.
Defender o Brasil
Contra a ameaça comunista.
Porque ele tem tanto medo dos comunistas?
São apenas a ínfima minoria.

No ambiente mofado
Sente-se um cheiro de maconha.
Sente-se que tudo está podre e baixo.

Colocam o cientista, brutalmente
Submisso num pau-de-arara,
E introduz em seu ânus
Algo que a vítima não vê.

De repente o ar é cortado
Com um grito de loucura,
Seguido de uma gargalhada
Cínica e estridente.

Seria o torturador um ser humano,
Ou o ser humano, um torturador?

Onde se escondem esses trastes,
Frios capachos do poder
Militarista e imperialista?
Serão os futuros milionários?
Talvez, se não ficarem loucos... também.
Pelo fato de não terem alma,
É que atingem com violência
A alma do ser humano.

São paus mandados do poder,
Que não ouvem os apelos
Dos pobres desgraçados,
E lhes atingem a alma
Para sempre.
Sempre.

Logo larga o cientista
E vai atender uma mulher.
Ela, profissional de saúde.
O torturador, também.
Ele, em sua sanha sanguinária;
Ela, em sua fúria desgraçada;
Ele obedece uma ordem ignóbil;
Ela reclama uma ordem lógica.
Ela é tudo,
Ele é nada.
Sem ligar para seus pensamentos
Ele se pôs a trabalhar.
Deu-lhe um forte bofetão, incisivo,
Sem saber com ódio de que?
E lhe quebrou os molares.
Chamou-lhe de puta e vagabunda,
Comunista e subversiva.
E mordeu-lhe os lábios,
E se deliciou com o sangue,
E zombou do sofrimento.
Ela, gritando;
Ele, conduzindo.
Ele mandava no mundo. Era amigo dos caras.
De repente ela gritou:
Eu não falo!
Você falou!
E ela disse:
Não o que você quer!
Ele disse:
Eu quero o seu sangue!
Ela disse:
Acendam o lampião
Que eu nada enxergo.
Puta enxerga de longe!
Disse ele na sua demência.
É a escoria da sociedade.
Logo acendeu o lampião
E depois ateou fogo
À pobre infeliz,
Que gritava sem parar,
Até que parou e morreu feliz
Por conseguir não falar.
Quando terminou de trabalhar a mercadoria
Morta e toda queimada,
O homem do governo
Foi atender um velho
Com seus oitenta anos.
Como o velho não aceitou
Denunciar o próprio filho,
Foi parar no pau-de-arara,
Do qual jamais sairia vivo.

Logo foi atender outra mulher
Que cuspiu-lhe o rosto.
Por isso foi torturada
Com choques elétricos,
Diante do próprio filho,

Apenas uma criança
De apenas dez anos.
Ao primeiro grito de horror,
Seu pequeno filho
Avançou para o torturador.
Logo recebeu um chute
Na altura do ouvido
E caiu tremulo, silencioso.
Não satisfeito, o torturador
Pegou uma barra de ferro,
E com um golpe raivoso
Acabou matando a criança,
Que babava sangue,
Enquanto ele espumava de raiva.
Então a mãe em prantos, pediu:
Me mate também!
E o torturador respondeu:
Não! Você vai falar!
Vai ficar viva até falar!
Depois eu lhe mato
E lhe arranco o coração!
Logo o torturador
Aplicou-lhe um choque elétrico.
Sua intensidade foi tanta
Que sua alma se arremessou,
E ela morreu sufocada.
E parou de sofrer.
Depois o torturador
Disse a todos os presentes,
Que iria para outro lugar
Dar aulas de torturas,
Por ordem direta de Médici.
Lá chegando, os outros irracionais
O olharam com orgulho.
Logo começou a sessão:
No pau-de-arara, uma adolescente
Com apenas quinze anos,
Completamente despida.
Um aluno levantou-se,
E queria participar de perto
Da macabra sessão.
O profissional de saúde
Elogiou sua iniciativa.
Quando o torturador
Deu o primeiro choque na moça,
O aluno disse:
Deixe que eu a estupre antes,
Essa puta comunista.
É toda sua.
Se acertar fazer as coisas
Vai ser promovido, imediatamente.
O aluno violentou a moça
Que gritava sem parar.
Ao terminar o estupro,
Pegou um bastão elétrico
E enfiou em sua vagina,
Com grande violência.
Ele descobriu que o torturador
Era impotente sexual.
Todos o aplaudiram,
E o rapaz foi promovido.
E o torturador disse:
O Brasil está orgulhoso de você.

Sempre haverá tortura
Sempre haverá desgraça.
Sempre haverá império.

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