segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Uma em cada seis crianças de até seis anos já sofreu racismo

 

Levantamento nacional mostra que 63% dos brasileiros acreditam que a discriminação racial começa já na primeira infância; creches e pré-escolas são os locais em que os casos são mais identificados
 

São Paulo, de outubro de 2025 – Às vésperas do Mês da Consciência Negra, novos dados revelam que 63% da população acredita que o racismo afeta as crianças desde os primeiros anos de vida. A informação integra o “Panorama da Primeira Infância: o impacto do racismo”, pesquisa nacional encomendada ao Datafolha pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal. A prevalência dessa percepção é mais comum entre mulheres, jovens e pessoas com maior renda e escolaridade.
 

Os achados revelam que o racismo atinge a infância de forma precoce: 16% dos responsáveis por crianças de até 6 anos afirmam que elas já sofreram discriminação racial. Entre cuidadores de pele preta e parda, esse índice chega a 19%.
 

“Isso é inadmissível em todos os aspectos. Estamos falando de uma fase da vida em que cada experiência conta para o desenvolvimento. Sofrer racismo, sobretudo nessa etapa, pode deixar marcas profundas na saúde, na aprendizagem e na autoestima das crianças”, afirma Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.
 

Os casos também são mais percebidos à medida que as crianças crescem. Enquanto 10% dos cuidadores relataram que crianças de 0 a 3 anos já passaram por alguma situação de discriminação, o percentual sobe para 21% entre os cuidadores de crianças de 4 e 6 anos. Um dos motivos é que crianças maiores conseguem verbalizar e compreender melhor as situações em que estão inseridas.
 

O racismo na escola

A pesquisa revela que creches e pré-escolas são os ambientes mais citados como locais onde crianças já sofreram discriminação racial. Entre os cuidadores entrevistados, 54% afirmam que suas crianças vivenciaram situações desse tipo em unidades de educação infantil, sendo mais frequente na pré-escola (61%) do que na creche (38%).
 

“Esse é um dado que deve ser observado com atenção e cautela. Parte disso pode ser explicado pelo fato de a escola ser um ambiente em que as crianças passam mais tempo e, portanto, ficam mais expostas”, analisa Mariana Luz. “Mas, se por um lado a escola pode ser cenário de discriminação, por outro, ela tem o potencial de ser o espaço onde a diversidade é valorizada e o racismo combatido. Preparar educadores e oferecer materiais adequados, conforme preconiza a Lei de História e Cultura Afro-Brasileira, é essencial para transformar essa realidade”, completa Luz.
 

Apesar de a Lei 10.639/2003 determinar que todas as escolas do país ensinem História e Cultura Afro-Brasileira, a prática ainda está longe de se consolidar. Um estudo realizado em turmas de creche e pré-escola de 12 municípios brasileiros revelou que 89,8% delas ignoram o ensino de questões étnico-raciais. Os dados constam na “Avaliação da Qualidade da Educação Infantil: Um retrato pós-BNCC”, realizada pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal em parceria com o Itaú Social, em 2023.
 

Além das escolas, outros espaços também foram citados como locais de racismo: parques e praças públicas (42%), condomínios e vizinhança (20%) e o próprio ambiente familiar (15%).
 

Serviços de saúde e assistência responderam por 6% dos casos relatados pelos cuidadores. Sendo que, nesses espaços, o índice de crianças de 0 a 3 anos que sofreram racismo é maior (12%) dos entre as crianças de 4 a 6 (3%).
 

Como o racismo afeta o desenvolvimento infantil

O enfrentamento do racismo desde cedo é crucial porque as experiências de discriminação estão associadas ao chamado estresse tóxico, que prejudica a saúde física e mental das crianças. Entre os impactos estão dificuldades de aprendizagem, baixa autoestima, rejeição da própria identidade, inibição comportamental e prejuízos na socialização.
 

“Garantir que bebês e crianças cresçam livres do racismo e qualquer outro tipo de discriminação é assegurar seu direito ao desenvolvimento pleno. Esse compromisso precisa ser assumido agora”, conclui Luz.
 

Metodologia

A pesquisa foi realizada entre os dias 8 e 10 de abril de 2025, com uma amostra nacional de 2.206 pessoas, sendo 822 responsáveis por crianças de 0 a 6 anos, que foram ouvidas em entrevistas presenciais em pontos de fluxo populacional. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para a amostra geral e 3 pontos percentuais para o grupo de responsáveis por crianças.
 

Em agosto, uma primeira parte da pesquisa “Panorama da Primeira Infância: O que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida” foi lançado com foco na percepção da sociedade sobre a primeira infância uso de telas e disciplinas punitivas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Estudantes do Colégio Santa Marcelina São Paulo desenvolvem jogo de tabuleiro para ensinar educação financeira

  - Denominado “Jornada do Milhão”, o jogo estimula os participantes a tomarem decisões financeiras estratégicas, planejando orçamentos e ge...