sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Com apelo à ação e foco na cooperação, Seminário Nacional pela Alfabetização encerra debates em Fortaleza

 

 
FOTOS: Carol Dias

Fortaleza - 07 de Agosto de 2025 - A capital cearense recebeu, nos dias 06 e 07 de agosto, o Seminário Nacional pela Alfabetização, que reuniu autoridades nacionais, gestores e especialistas da área para debater os rumos da alfabetização no Brasil. O evento, que contou com cerca de 500 participantes presenciais e aproximadamente 20 mil inscritos online, teve sua abertura marcada por falas que reforçaram o compromisso coletivo com a alfabetização das crianças brasileiras na idade certa.

Fotos: Carol Dias

O ministro da Educação, Camilo Santana, defendeu o regime de colaboração entre União, estados e municípios como pilar essencial para o sucesso do Compromisso Nacional Criança Alfabetizada (CNCA). “Não aceitaremos retrocessos quando o assunto é alfabetizar nossas crianças”, afirmou. Ele também comemorou a criação da Política Nacional Integrada da Primeira Infância, destacando o papel do MEC na coordenação dessa nova frente.
 

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, compartilhou a trajetória de melhoria nos índices de alfabetização do seu estado. “Saímos de 92% de crianças que não sabiam ler, escrever e interpretar, muitas delas só se alfabetizavam no 4º ou 5º ano. Isso criava um sentimento de exclusão. Com muito trabalho e apoio aos municípios, avançamos. Hoje, Goiás alcançou 72,7% de crianças alfabetizadas na idade certa. Ainda estamos atrás do Ceará, com seus mais de 85%, mas vamos continuar avançando com seriedade e dedicação”, destacou Caiado.
 

Já no segundo dia de evento, as discussões foram voltadas à equidade, mobilização social e avaliações. Participação importante no encontro, Márcio Pochmann, presidente do IBGE, destacou o papel das políticas públicas eficazes: “Estamos vivendo uma época permeada de mudanças e isso nos leva a refletir sobre a alfabetização. Um país que se coloca cada vez mais no centro do mundo, com as suas dificuldades, evidentemente, mas também com uma imensa oportunidade, tem um desafio muito grande que é construir políticas de natureza preditiva, de enfrentamento das desigualdades regionais, esse é nosso grande desafio”.
 

O Senador da República e Presidente da Subcomissão Permanente da Alfabetização na Idade Certa, Cid Gomes, defendeu a alfabetização como prioridade nacional e destacou a educação como vetor de transformação social. “Estou na vida pública porque acredito que todas as pessoas devem ter a chance de realizar seus sonhos, e isso só é possível por meio da educação. Nosso maior desafio é garantir uma escola pública de qualidade para todos os brasileiros”, lembra.

Fotos:Carol Dias

Já o presidente do INEP, Manuel Palacios, enfatizou os processos de avaliação: “A avaliação feita pelos sistemas estaduais serve como uma ferramenta de apoio à gestão de uma maneira muito mais significativa do que uma avaliação nacional sem o ponto de vista das iniciativas estaduais. No rastro dessa iniciativa, sistemas de incentivo estaduais ao progresso da educação brasileira foram criados em quase todas as unidades da federação. Precisa-se criar um ambiente de incentivo continuado, que seja vinculado entre a União e o Estado. Nós precisamos ter avaliações convergentes e estamos empenhados em tornar nossas avaliações mais sensíveis às realidades das redes e mais úteis para o planejamento educacional”, reforçou.
 

Em sua fala final do evento, Veveu Arruda, diretor-presidente da Associação Bem-Comum reforçou a relevância do encontro: “Nós reunimos 500 pessoas no auditório, representando todos os estados brasileiros e o Distrito Federal. E tivemos uma participação expressiva, com quase 20 mil pessoas do Brasil e de outros países. É assim que a gente consegue reverberar a agenda da alfabetização na idade certa, que, apesar dos esforços importantes feitos nos últimos anos, ainda precisa ser uma prioridade na nação brasileira. Mesmo o Brasil sendo o único país do sul global que tem um programa nacional para a superação do analfabetismo, que é o Compromisso Nacional da Criança alfabetizada (CNCA), por meio do regime de colaboração da União com estados e municípios, nós ainda precisamos, juntos, enfrentar esse problema do analfabetismo. A troca de experiência que tivemos nesses dois dias foi tão rica que saímos com uma animação no coração e na cabeça de que seremos, sim, capazes de alcançar a meta que o próprio governo federal estabeleceu, de alfabetizar, até 2030, 80% das crianças”.
 

O Seminário Nacional pela Alfabetização foi promovido pela Aliança pela Alfabetização (Associação Bem Comum, Fundação Lemann e Instituto Natura), e Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (CAEd), em parceria com o B3 Social e Fundação Vale.

Embriaguez ao volante: vítimas ficam desamparadas por falta de políticas públicas

 


 

Mais de 3,5 mil acidentes de trânsito nas rodovias federais brasileiras, entre janeiro e novembro de 2024, foram relacionados por embriaguez ao volante, segundo levantamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Os sinistros provocaram 178 mortes e deixaram 2.828 pessoas feridas. No maior estado do país, que representa 28% da frota brasileira, os números também impressionam. De acordo com o Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP), no ano passado, cerca de 13 mil motoristas foram autuados por alcoolemia (recusa, direção sob efeito de álcool e embriaguez), um aumento de 29% no comparativo com 2023.


“Infelizmente, todos nós estamos submetidos à irresponsabilidade de pessoas que assumem o risco de dirigir alcoolizadas. Atualmente, um Projeto de Lei tramita no Congresso Nacional para tornar a embriaguez ao volante com resultado morte em crime hediondo, sob a ideia de se fazer Justiça em casos de acidentes com vítimas fatais. No entanto, quando os sinistros deixam feridos e sequelados, no Brasil não existe nenhuma política pública de amparo às vítimas”, diz Lucio Almeida, presidente do CDVT – Centro de Defesa das Vítimas de Trânsito, Organização Não Governamental sem fins lucrativos e com atuação em todo o território nacional.


Almeida denuncia, inclusive, dos retrocessos e desmontes nas políticas públicas relacionadas às vítimas de acidentes de trânsito. “Primeiro teve o fim da arrecadação do DPVAT (Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por Veículos Automotores de Via Terrestre), em 2020. Recentemente, denúncias de que os valores do FUNSET (Fundo Nacional de Segurança e Educação no Trânsito) estão sendo contingenciados para despesas do governo. E agora a proposta de acabar com a obrigatoriedade de autoescola para tirar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação). São medidas completamente inadequadas para um país que tem um dos trânsitos mais violentos do mundo”, contesta.


A política de um seguro obrigatório não é uma inovação recente. Iniciou-se em 1929 na Suécia, transformando-se num modelo que se estende atualmente por diversos países, inclusive nos menos desenvolvidos ou economicamente inferiores ao Brasil. No Peru, Equador ou Venezuela, por exemplo, as vítimas são cobertas pelo SOAT (Seguro Obrigatório de Acidentes de Trânsito), que cobre despesas médicas e hospitalares, independentemente de quem seja o culpado pelo acidente. “Seja motorista, passageiro ou pedestre, todos têm direito a um respaldo digno em caso de acidente. Portanto, não podemos mais tolerar que sejam tratados com todo esse descaso”, conclui o presidente do CDVT.


Dinheiro parado - Almeida também destaca a necessidade da liberação por parte das empresas de seguro dos R$ 2,6 bilhões que já haviam sido arrecadados pelo DPVAT para o fundo de indenizações para as vítimas de trânsito, que já foi determinada pelo Tribunal de Contas da União (TCU). “Com esse valor, seria possível indenizar todas as vítimas de 2023 e 2024, por exemplo”, afirma o presidente do CDVT.


Cobrança feita também pelo DPU (Defensoria Pública da União), que entrou com uma ação judicial para assegurar que vítimas de trânsito recebam suas indenizações devidas, mas que tiveram seus pedidos negados ou bloqueados, apesar de cumprirem todos os critérios legais. Essas pessoas se acidentaram entre novembro de 2023 e dezembro de 2024, período em que o SPVAT estava em vigor, mas enfrentava entraves legais.

terça-feira, 12 de agosto de 2025

Ministros das Comunicações e da Cultura lançam programa para promover transformação digital em territórios culturais e tradicionais

 Evento ocorreu em Salvador, nesta sexta-feira (8), quando foi assinado Acordo de Cooperação Técnica entre as duas pastas

Foto: Peter Neylon/MCom

Salvador (BA) foi palco, nesta sexta-feira (8), do lançamento do Programa Cultura Conectada, iniciativa que nasce da parceria entre os ministérios das Comunicações e da Cultura com o objetivo de promover a transformação digital de territórios culturais e tradicionais por meio da entrega de computadores recondicionados e da oferta de formação digital.
 

O evento contou com a presença dos ministros das Comunicações, Frederico de Siqueira Filho, e da Cultura, Margareth Menezes, que assinaram um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) para a execução do programa.

A parceria contempla dois eixos programáticos do Cultura Conectada: Afro-Digital – Conectando Quilombos e Terreiros, com a participação da Fundação Cultural Palmares; e o Cultura Viva Conectada – Comunicação e Territórios em Rede, voltado à inclusão digital dos Pontos de Cultura em todo o país.
 

"Com essa parceria, vamos levar inclusão digital a mais comunidades quilombolas, terreiros tradicionais e espaços culturais de matriz africana. Uma parceria que vai além da doação de computadores. Estamos falando de formação, conectividade, produção de conteúdo e valorização de saberes tradicionais”, destacou o ministro Frederico de Siqueira Filho, destacando que por meio do Programa Computadores para Inclusão, o MCom já instalou 50 pontos de conexão em comunidades quilombolas de diversos estados do Brasil.
 

Na primeira etapa do Programa, está prevista a doação de 200 computadores recondicionados, sendo 132 destinados a 44 comunidades quilombolas e 68 a 17 terreiros tradicionais. Além disso, serão implementadas a produção do Mapa Nacional dos Quilombos Conectados e a inclusão da conectividade em territórios quilombolas no Programa de Governo Eletrônico — Serviço de Atendimento ao Cidadão (Gesac).
 

"Essa parceria reflete o compromisso do presidente Lula entre as nossas pastas, Ministérios da Cultura e das Comunicações. Unindo forças para combater a desigualdade, promover a inclusão digital e cultura onde as pessoas mais precisam", afirma a ministra da Cultura, Margareth Menezes.
 

O Programa Cultura Conectada é uma política pública em construção, voltada à ampliação do acesso à tecnologia e à conectividade entre agentes culturais, especialmente aqueles vinculados a ações afirmativas e territórios periféricos, quilombolas e tradicionais.
 

A parceria com o MCom se dará por meio do programa Computadores para Inclusão, já executado pela pasta há 18 anos, promovendo o recondicionamento de equipamentos eletrônicos por meio de centros parceiros e fazendo a doação dos computadores a pontos de inclusão digital em todo o Brasil. Até o momento, quase 63 mil máquinas já foram doadas por meio do programa, em 1241 municípios.

Aprendizagem aliada ao desenvolvimento sustentável

 


  • Por Humberto Casagrande


Em um país como o nosso, que convive com tantos problemas sociais e econômicos, é necessário ressaltar iniciativas que colaboram para evitar o agravamento desse quadro. É o caso da Lei da Aprendizagem, que há quase 25 anos incentiva jovens entre 14 e 24 anos a conseguir o primeiro emprego, ao mesmo tempo em que fornece ao empresariado a oportunidade de contar com mão de obra mais qualificada e motivada. 


Além de garantir a mais de 600 mil jovens uma oportunidade valiosa de conseguir emprego, a Aprendizagem proporciona a milhares de empresas a possibilidade de contar, em seu quadro de colaboradores, com jovens entusiasmados, mais bem formados e com menor carga horária – além de contribuírem para o desenvolvimento social do país.  


Para que se tenha a real dimensão da importância da Aprendizagem, no entanto, é preciso estar atento às mudanças e à modernização pelas quais ela passou com o decorrer do tempo.  


É necessário lembrar, por exemplo, que de 1943 a 2003 a Aprendizagem foi de responsabilidade do chamado “Sistema S” – atualmente formado por nove entidades, entre as quais Senai, Sesi e Senac. Durante esses 60 anos, o chamado “estoque” de aprendizes foi de 50 mil jovens, um número irrisório para um país como o Brasil.  


A partir da Lei do Aprendiz, aprovada no ano 2000 e regulamentada em 2003, o número saltou para 609.644 e o potencial já é de 1 milhão de pessoas. 


Além disso, é preciso estar atento para evitar falácias que costumam ser apresentadas como fatos. Dizer, por exemplo, que apenas 10% dos aprendizes são efetivados nas companhias é “fake news”, pois não há comprovação de que essa porcentagem corresponda à realidade.  


Outra falácia é afirmar que “aprendiz não tem chefe”. Atualmente, todos trabalham com uma pessoa mais experiente ensinando e orientando. Quem propaga o conceito antigo leva em conta apenas o passado, quando o jovem era um “tarefeiro”, ou seja, trabalhava apenas por tarefas. Faz tempo que essa visão anacrônica não tem sentido. Os jovens e as empresas têm uma postura holística, que significa olhar o trabalho de maneira bem mais ampla do que simplesmente fazer o que lhe é mandado. 


Veja o exemplo dado por um executivo de empresa multinacional: ele revela que antigamente as companhias, principalmente as internacionais, buscavam jovens com inglês fluente para preencher muitas de suas vagas. Mas esse quadro mudou e a prioridade agora, segundo ele, são as pessoas que têm características como espírito empreendedor, voltadas à inovação e que demonstrem caráter. O inglês ficou para ser ensinado durante o trabalho.  


Opor-se a essa realidade é dar um tiro no pé. É certo que vivemos em um país onde as empresas pagam impostos demais e têm muitas obrigações, recebendo muito pouco em troca. Mas de que adianta criticar a Aprendizagem alegando que a responsabilidade da formação do jovem é do Estado? É evidente que o Estado não o fará e que vai “devolver” o problema. Em vez de “empurrar” o problema é preciso tentar resolvê-lo.  


Também não vale a comparação do que acontece com a Aprendizagem no Brasil com outros países mais desenvolvidos, como Alemanha e Áustria. Nossa realidade, infelizmente, é muito diferente, com a maioria dos jovens sendo submetidos à formação deficiente tanto familiar como profissional.  


É necessário olhar os números reais. De acordo com dados do IBGE, existem 33,6 milhões de pessoas no país com idade de 14 a 24 anos e, no 4º. trimestre de 2024 apenas 14,5 milhões delas estavam ocupadas. Os jovens que não estudam e não trabalham, erroneamente denominados de “nem-nem”, formam um contingente de 5,3 milhões de pessoas entre 18 e 24 anos – 2 milhões de homens e 3,3 milhões de mulheres, muitas delas com filhos pequenos.  


Maior evasão escolar, crescimento do desemprego, falta de perspectiva de melhoria de vida e maior potencial de adesão à criminalidade são alguns dos malefícios causados por essa situação.  


A Aprendizagem mostra, em um cenário tão preocupante, toda sua importância. Ao combinar aprendizado prático com educação formal, ela ajuda a preparar a próxima geração de profissionais de maneira inovadora e inclusiva.  


Além da legislação que se renova regularmente, as companhias que optam por aprendizes contam com suporte de empresas especializadas na formação desses jovens. No Centro de Integração Empresa-Escola- CIEE, por exemplo, são 16 cursos, mas estamos em expansão dos polos de capacitação, chegamos a 190 polos, com 79.340 aprendizes ativos.  


Evidente que há sempre espaço para aperfeiçoamento. No entanto, o Brasil não pode abrir mão de contar com a Aprendizagem. Sem ela, não há como sonhar com um país mais justo, capaz de obter ganhos de produtividade que permitam competir com sucesso em um ambiente econômico global cada vez mais competitivo.  


*Humberto Casagrande é CEO do Centro de Integração Empresa-Escola - CIEE. É engenheiro de Produção pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR e Mestre em Administração de Empresas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP. Acumula ampla experiência no mercado financeiro, tendo sido conselheiro da Bolsa de Valores de São Paulo – BOVESPA. Atuou como diretor de diversas instituições bancárias como Sudameris, Fator, Citibank e Banespa. É ex-presidente e fundador da APIMEC Nacional – Associação Brasileira dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais.  


segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Uso do audiovisual nas escolas é benéfico, mas demanda planejamento e adaptação aos alunos

 

Carlos, Gabriel, Roseday, Fernando e Letícia no painel promovido pelo Festival Curta! Documentários. Foto: Gabi Netto

Na última quinta-feira, 7 de agosto, foi realizado no Rio de Janeiro o painel "Audiovisual na Educação: Políticas Públicas e Estratégias de Difusão nas Escolas", como parte da programação do 3º Festival Curta! Documentários. Na mesa, agentes culturais, produtores e pedagógicos analisaram de que maneira o uso de filmes e séries pode ser incorporado ao cotidiano escolar. Vanessa Souza Kim Queiroz, coordenadores do CurtaEducação, plataforma de streaming que une educação e entretenimento (edutainment), promovendo engajamento e transdisciplinaridade através de conteúdos audiovisuais relevantes, mediaram o debate. Vanessa pontuou que a grande missão do projeto é fazer com que o audiovisual, principalmente o brasileiro, encontre a plateia que, na sua visão, é a mais importante, que são os cidadãos em formação. "Levar nosso cinema para dentro das escolas é uma oportunidade não somente de formar plateias, mas também de enriquecer e tornar mais prazeroso o aprendizado, levando para a sala de aula personalidades, lugares e histórias que não chegariam ali naturalmente", disse.
 

O CurtaEducação firmou recentemente uma parceria com a SEEDUC-RJ, a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro. Roseday Nascimento, coordenadora de articulação no órgão, também destacou a importância do audiovisual nas escolas e ressaltou que, como qualquer projeto, isso demanda planejamento. "O audiovisual já começa com uma vantagem, porque 50% da aprendizagem acontece quando a gente consegue ouvir, ler e ver alguma coisa. E esse trabalho do CurtaEducação facilita muito porque sabemos que, por trás, há uma curadoria responsável, o que ajuda os professores a desempenharem esse trabalho nas salas de aula. O resultado é muito produtivo. Os alunos entendem a mensagem que você quer passar de forma mais agradável e lúdica. Acredito que esse projeto terá muito sucesso".
 

Do ponto de vista de alguém cuja trajetória já incluiu anos de trabalho em sala de aula, Nascimento pontuou que não dá para pensar em ensinar as crianças e os adolescentes de uma única maneira. "Temos que diversificar, e essa diversidade ocorre também através dessas possibilidades do cinema. Com ele, conseguimos trabalhar diversos conteúdos, inclusive promovendo uma integração transdisciplinar e alinhando diversos componentes, oferecendo assim uma formação integral. Cada aluno aprende de uma maneira, por isso precisamos de estilos de aprendizagem diferentes -- e o audiovisual complementa e facilita esse processo", avaliou.
 

A coordenadora enfatizou que, antes de escolher um filme ou uma série para utilizar com os alunos, os professores devem planejar, isto é, entender onde querem chegar com aquilo. Qual é o objetivo de apresentar aquele conteúdo. "O professor tem que ter um feeling, um termômetro. Às vezes, ele acha que aquela aula que ele montou é maravilhosa -- mas pode ser só para ele. Para os alunos, não. Temos que entender como eles aprendem. Professor é um eterno estudioso. Mas o planejamento é fundamental -- além do trabalho integrado, até para otimizar, isto é, utilizar um único curta e atender a diversos componentes curriculares", concluiu.
 

Promover o debate
 

Fernando Sousa e Gabriel Barbosa são diretores do filme "Rio, Negro" (2023), da Quiprocó Filmes, um documentário que apresenta um olhar possível para a história do Rio de Janeiro. A partir de entrevistas e amplo material de arquivo, a narrativa busca desvelar como a população negra forjou trajetórias individuais e laços comunitários em uma cidade-diáspora marcada pelas disputas em torno do projeto "civilizatório" das elites brancas. O filme é um dos mais utilizados nas escolas a partir do CurtaENEM.
 

Sousa contou que, durante o processo de produção dos filmes, a dupla nem sempre concorda, mas o ponto é justamente esse: a importância do debate. "Principalmente com os documentários, pensamos em como esses filmes podem favorecer ou facilitar debates -- não só na escola, mas em qualquer outro lugar. Quando criamos nossos documentários, pensamos em qual é o público-alvo, claro, mas ao pensar nisso não trazemos essa perspectiva de ser um filme pedagógico, e sim um filme que proporcione debate", explicou. "Nossos filmes trazem perspectivas contemporâneas sobre determinados temas. E um ponto fundamental é não menosprezar o público. Os filmes podem circular no ensino básico, médio, graduação, pós-graduação… Pensamos que eles podem passar por diferentes espaços de ensino, contribuindo para o debate e sendo usados como material de apoio. Eles contribuem com a formação dos professores também, e não só dos estudantes. É uma via de mão dupla", acrescentou.
 

Barbosa concorda que parte do processo de se pensar e conceber um filme passa justamente por não subestimar o público, não optando por um caminho que circunscreva a audiência e limite aquilo que a obra pode alcançar: "A gente não controla por onde o filme vai circular, nem aquilo que vai ser debatido depois. Com esses debates, nós realizadores também aprendemos ainda mais sobre o filme e a temática que ele aborda. Começamos a pensar nossos filmes de maneiras diferentes a partir dos debates que participamos. Temos a convicção de como o filme segue mudando aqueles que o realizaram também. Um filme pode construir novas possibilidades de abordagem e perspectiva dentro de um mesmo assunto, apresentando conexões que não eram dadas para nós antes". Para o realizador, produzir um filme é buscar ao máximo a ousadia de reinterpretar coisas, olhando de outra maneira para o assunto em questão, pisando no presente e também mirando o futuro.
 

Carlos Seabrasócio-diretor da Oficina Digital, empresa de assessoria e desenvolvimento de projetos lúdicos, educacionais e de comunicação, salientou que, com a Internet e o ambiente digital, esse processo de distribuição audiovisual, inclusive nas escolas, ficou ainda mais fácil -- mas há o problema dos algoritmos, uma vez que quem comanda o digital hoje são as big techs. "Existe um projeto de poder, com algoritmos que determinam o que as pessoas assistem ou deixam de assistir", destacou.
 

É justamente nesse contexto que o uso dos conteúdos audiovisuais nas escolas é ainda mais relevante. "E não é só ver o filme -- precisa do debate. Quando você discute o filme, bate um papo a respeito, aí sim você está construindo sinapses. Isso é apropriação do conteúdo. Caso contrário, entra por um ouvido e sai pelo outro. Não é fácil fazer debates com mais significado -- principalmente na escola. Por isso precisamos simplificar. A escola não está habituada a debater. Por mais que a educação tenha se democratizado, ainda segue-se muito aquele modelo do professor como emissor do saber. Ele fala e os alunos ouvem. Precisamos reinventar o debate, especialmente nas escolas. Isso é fundamental. Ver um filme em sua plenitude é trocar opiniões a respeito", afirmou. Nesse sentido, Seabra defendeu que os professores devem ser propositivos, fazendo do debate uma coisa viva. "Paulo Freire já era contra essa educação baseada na mera transmissão de informações. O conhecimento é construído pelos indivíduos, e não comunicado", observou.
 

Ele concorda com Roseday Nascimento no sentido de que utilizar audiovisual em sala de aula demanda planejamento. "Você exibe o filme, propõe uma discussão, relaciona com um fato recente. Principalmente com os curtas, os alunos podem assistir tudo de uma vez e depois reassistirem com o professor fazendo pausas, com mini-debates durante o filme. O CurtaENEM permite isso, ou seja, trabalhar com pequenos segmentos", sugere.
 

Kim, Carlos, Gabriel, Roseday, Fernando, Letícia e Vanessa ao final do painel. Foto: Gabi Netto

Adaptação ao público
 

É claro que, em tempos de redes sociais e um verdadeiro bombardeio de conteúdos audiovisuais, especialmente aqueles mais curtos e rápidos, despertar a atenção do aluno para um conteúdo mais longo ou profundo é desafiador. Para Seabra, a estratégia é basicamente "falar na língua deles", colocando conteúdos relevantes nessas plataformas. "Único jeito de contrariamos isso é tendo um projeto próprio de uso dessas redes. Que passa por uma regulamentação, claro, mas trabalhando essa dopamina que elas geram a nosso favor".
 

Letícia Couto, coordenadora de comunicação do Instituto Claro, que é responsável pela área social da empresa, contou que o Instituto possui um canal no TikTok feito por e para professores. "No segundo semestre, vamos lançar uma série de planos de aula de livros da Fuvest. Até pensamos em fazer um vídeo do TikTok por obra, mas não dá. Não tem como resumir tanto. Por isso optamos por um formato mais longo. Mas tem muita coisa que dá pra fazer no TikTok, no Instagram. Acredito nisso: em fazermos produção de qualidade em todos os formatos. Se é esse formato que está sendo consumido pelos jovens, que eles tenham acesso a conteúdos de qualidade nesse formato", defendeu.
 

O Instituto Claro tem um grande volume de produção de conteúdo em educação e cidadania. "Mais do que investir e produzir esse material, temos muita responsabilidade com ele, pensando especialmente nessa quantidade de conteúdo que chega para as pessoas, nessa produção descontrolada. Queremos garantir, ali no detalhe, a qualidade. Temos uma equipe que envolve coordenador pedagógico, jornalista, enfim, pessoas que foram cuidadosamente escolhidas. E ouvimos muito os professores também. Temos esse cuidado de não achar que sabemos o que o professor quer. A gente não sabe, temos que ouvir deles -- como a gente pode contribuir, que materiais podemos fornecer. Buscamos também sempre levar temas atuais para a sala de aula, pensando no que está sendo falado agora e no que ainda tem pouco material disponível. O desafio é fazer com que esse conteúdo chegue, por isso trabalhamos muito nas nossas redes sociais e na comunicação. Também damos muito espaço a outros formatos de produção de materiais, como vídeo, podcast e reportagem, trabalhando diferentes formatos para, de fato, chegarmos a públicos diferentes, alunos e professores diferentes, com demandas diferentes", detalhou Couto.
 

Distorção das políticas públicas
 

Por fim, Sousa aproveitou a oportunidade para refletir sobre a produção e o atual espaço dos curtas-metragens no Brasil. Sua produtora, a Quiprocó Filmes, já produziu cerca de 15 curtas e dois longas. Na classificação da Ancine, eles são uma produtora de "Nível 2". Para subir de nível, eles precisam produzir novos longas. "A questão é que a produção de curtas não conta nada. Podemos produzir 200 curtas que continuaremos no mesmo nível. Há aí uma distorção -- e estamos num momento de muitas distorções nas políticas públicas para o audiovisual brasileiro. Já temos três anos nesse governo e pouco se avançou -- na regulação do streaming, na regulação das telas como deveria, na lei do curta… Quando a gente não avança na regulação do streaming, deixamos de arrecadar um monte de recursos que poderiam estar sendo investidos no audiovisual. É uma distorção geral do ponto de vista de políticas públicas. Para quem está do lado da produção, sobretudo as pequenas produtoras -- que produzem muitas vezes esses curtas-metragens, nem se fala. Esse Ministério está fraco e precisa operar", concluiu o diretor.

Últimos dias para visitar exposição com Da Vinci que antecipa o museu do futuro

 

Mostra em São Paulo, disponível até 24 de agosto, quebra a “quarta parede” ao permitir que o público interaja com obras de arte

A exposição “Visualfarm Gymnasium: Leonardo da Vinci” entra em seus últimos dias em São Paulo, com visitas até 24 de agosto. Instalada em um galpão de 2.000 m² no Campos Elíseos, a mostra antecipa a proposta de museu do futuro ao quebrar a tradicional “quarta parede”, fazendo com que obras de arte deixem de ser apenas observadas à distância, para reagirem à presença do público. Essa é apenas a primeira instalação do laboratório de arte imersiva, cuja programação apresenta dois novos trabalhos expositivos a partir de setembro.

 

A experiência de Da Vinci se desdobra por meio de tecnologias de ponta, entre elas inteligência artificial, projeções mapeadas, realidade virtual, engenharia robótica e áudio 3D multicanal, todas integradas a uma estrutura sensorial dinâmica, que pode ser alterada em poucos cliques. A proposta do Visualfarm Gymnasium é transformar o visitante em coautor de uma narrativa visual em movimento.

 

“O museu do futuro é um espaço onde a obra não está pronta, mas acontece em tempo real. Nessa exposição, as criações de Leonardo interagem com o público porque o presente e o passado dialogam com base em dados, luz e movimento”, explica Alexis Anastasiou, diretor criativo do Visualfarm Gymnasium e do trabalho sobre o gênio renascentista. “É como se a própria mente de Da Vinci estivesse projetada no espaço”, compara.

 

Da juventude à intimidade de Leonardo

 

A jornada pela exposição começa de forma inusitada, com um tobogã que convida o visitante a abandonar a rigidez museal tradicional. No núcleo “Vinci”, a cidade natal de Da Vinci é celebrada com obras de sua juventude e retratos renascentistas recriados por inteligência artificial a partir do rosto do público. O "Domo" é um planetário digital com projeções 360˚ que conduzem o público em um espetáculo audiovisual por lugares onde viveu e aspectos marcantes de suas invenções visionárias.

 

Na ala “Consagração”, o foco recai sobre o engenheiro militar, com peças como a balestra gigante e o veículo blindado, além de uma réplica de “A Última Ceia” com mapeamento digital. A icônica Mona Lisa também surge em instalação especial. Já a “Camera Segreta” revela o lado mais íntimo de Da Vinci, com obras que abordam espiritualidade, androginia e sexualidade. A visita culmina em um espetáculo audiovisual de 29 minutos na “Sala Imersiva” e se encerra com uma instalação simbólica sobre Amboise, cidade onde o gênio passou seus últimos dias.

 

Uma cenografia viva, movida a dados

 

No lugar de paredes brancas e objetos sob vidro, a mostra assume um formato cinematográfico, quase teatral. O rider técnico impressiona: dezenas de projetores de alta performance, centenas de metros de cabos de fibra ótica, sensores infravermelhos, telas de LED curvas e sistemas de som tridimensional criam paisagens sensoriais imersivas e adaptáveis.

 

É como entrar num mecanismo vivo. Cada passo do visitante desencadeia alterações visuais e sonoras, para redesenhar invenções visionárias e pinturas icônicas ou modular a trilha sonora. A interação é intuitiva: sem telas, QR codes ou dispositivos, tudo se dá na presença física, no corpo em movimento.

 

“Essa exposição não é sobre olhar uma obra. É sobre entrar nela. É o próprio Leonardo nos chamando para pensar com o corpo inteiro”, sintetiza Alexis Anastasiou.



 

SERVIÇO

“Visualfarm Gymnasium: Leonardo da Vinci”: Praça Olavo Bilac, 38, Campos Elíseos, São Paulo

Até 24 de agosto

Quarta a domingo, das 10h às 22h (última entrada às 21h)

Acessível para pessoas com mobilidade reduzida

Entrada gratuita para crianças até 6 anos. Meia-entrada para estudantes. Ingressos a partir de R$ 30

Visualfarmgymnasium.com.br | Instagram.com/visualfarmgymnasium | Facebook.com/visualfarmgymnasium | Tiktok.com/@visualfarmgymnasium

Com apelo à ação e foco na cooperação, Seminário Nacional pela Alfabetização encerra debates em Fortaleza

    FOTOS: Carol Dias   Fortaleza - 07 de Agosto de 2025 - A capital cearense recebeu, nos dias 06 e 07 de agosto, o Seminário Nacional pela...