O ano de 2014 está começando trazendo Copa do Mundo, eleições e a
promessa de muita agitação.
Há, entretanto, um grande número de jovens que, neste começo
de ano, está estudando muito e, além disso, passando pela tensão provocada pela
realização da segunda fase dos principais vestibulares de todo o
país.
Durante muitos anos, acompanhei esse processo, pois lecionei
em cursos pré-vestibulares, atividade muito difícil nessa época em que, para os
vestibulandos, a ansiedade e a insegurança se exacerbam e o equilíbrio daqueles
que os orientam é imprescindível nessa hora.
Os que vencem a barreira do vestibular tornam-se novas
pessoas em Fevereiro: motivadas, sonhadoras e prontas para passar para uma nova
fase.
Em 1904, Manuel Bandeira, poeta imortal da língua portuguesa,
passou por isso. Aos 18 anos ingressou na nossa querida Escola Politécnica, que
já existia, antes mesmo da Universidade de São Paulo ser fundada, para fazer o
curso de engenheiro-arquiteto.
Entretanto, ainda no primeiro ano, contraiu
tuberculose, doença quase fatal na época, sendo obrigado a abandonar tão
interessante e promissora carreira.
Ao pensar nisso, lembro-me da
preocupação constante com a evasão nas principais universidades brasileiras.
Geralmente, suas comissões e colegiados procedem de maneira burocrática,
inventando regras, redigindo portarias e procurando com isso gerar números e
indicadores que deixem os gestores governamentais
satisfeitos.
Ir
ao âmago da questão é um pouco diferente. Alunos que entram em universidades de
primeira linha, em nosso país, passam por seleção rígida e, não há dúvida, são
competentes e estão motivados.
Entretanto, encontram cursos difíceis e, acreditem, cursos de
alto nível são me smo difíceis. Têm que enfrentar uma mudança de enfoque: passar
de reprodutores de conhecimento para produtores de soluções de problemas mais
sofisticados. Isso pode gerar o desconforto de eventuais notas baixas,
reprovações em disciplinas ou outros percalços em um ambiente em que a liberdade
aumenta muito, mas também a cobrança, que se traduz nos níveis mínimos de
aprovação.
A boa estrutura
familiar, a capacidade de superação e a ajuda de bons colegas contribuem
significativamente para que o curso seja concluído com sucesso. Como isso
acontece com a maioria, nos esquecemos das minorias que se perdem pelo
caminho.
Os
fatores que levam a essas perdas são vários. O principal é a falta de recursos.
Engana-se quem acha que a universidade pública só acolhe filhos de gente
abastada.
Aos
alunos originários de f amílias de baixa renda, o trabalho, difícil de conciliar
com os estudos, é uma alternativa importante e, quase inevitavelmente, atrasa
disciplinas levando ao constrangimento imposto por regras e portarias que levam
à desistência final.
Como no caso de nosso poeta, há, também, as doenças, mas
também jovens que se transformam em mães e pais, antes do curso acabar. Há,
enfim, uma infinidade de situações que requerem ajuda, para que os talentos não
sejam desperdiçados. Nosso país exige o combate ao desperdício, enfermidade
crônica análoga à que impossibilitou Manuel Bandeira de concluir a
Poli.
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