quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Estudantes do Colégio Santa Marcelina São Paulo desenvolvem jogo de tabuleiro para ensinar educação financeira

 

- Denominado “Jornada do Milhão”, o jogo estimula os participantes a tomarem decisões financeiras estratégicas, planejando orçamentos e gerenciando despesas mensais.

- Projeto vem ao encontro da necessidade de alfabetização financeira observada atualmente no Brasil.

educação financeira continua sendo um fator preocupante na sociedade brasileira. De acordo com o levantamento do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 45% dos brasileiros de 15 anos têm baixo desempenho na alfabetização financeira. Outra pesquisa, realizada pela Onze, fintech de Saúde Financeira e Previdência Privada do Brasil, indicou que 47% dos brasileiros não conseguem organizar o próprio orçamento.

Tendo em vista esse cenário, um grupo de quatro estudantes mulheres do Colégio Santa Marcelina São Paulo desenvolveu um jogo de tabuleiro que tem por objetivo ensinar educação financeira a crianças e jovens de forma lúdica. Denominado “Jornada do Milhão”, os participantes tomam decisões financeiras estratégicas, planejando orçamentos e gerenciando despesas mensais.

De acordo com o Professor de Matemática do Colégio Santa Marcelina São Paulo, Nilton Silveira Domingues, essa abordagem incentiva uma inteligência financeira aprimorada. “A maioria dos brasileiros vive numa situação de inadimplência e muito disso se deve à falta de acesso à educação financeira desde a infância. Nesse sentido, o jogo é uma forma lúdica de divertir enquanto dissemina conceitos de gestão consciente e saudável do dinheiro”, explica. 

O conceito 

O processo criativo dos estudantes se iniciou ainda na sala de aula, de forma teórica, com pesquisas sobre educação financeira no Brasil pela disciplina Gestão Econômica e Social – GES, ministrada juntamente com o professor Paulo Silvaem que foi possível levantar dados sobre endividamento e falta de acesso ao tema, o que motivou o desenvolvimento do projeto.

“Inicialmente foram elaborados o design e dinâmica do jogo, além de realizados os testes de materiais, escolha das cores mais adequadas aos públicos-alvo e definições gráficas para a produção, como forma de equilibrar preço e qualidade. Durante o processo, também surgiram desafios que levaram as estudantes a entender as complexidades do mercado, como precificação, fornecedores e logística”, conta Domingues.

A validação do jogo se deu durante uma feira científica realizada no Colégio em que crianças e pais puderam jogar e fornecer feedbacks positivos. Nesse contexto, o professor explica que toda a iniciativa permitiu que o grupo entendesse tudo o que envolve a criação de um novo produto no mercado, ampliando os horizontes da educação financeira para além da gestão familiar. “O jogo virou mais que um trabalho escolar, mostrou que a gestão dos recursos pode ser divertida e transformadora, especialmente para as novas gerações", enfatiza.

Dinâmica do jogo

A “Jornada do Milhão” consiste em um jogo de tabuleiro circular com 30 casas, em que cada casa representa um dia do mês. No início do jogo, cada jogador recebe quatro cartas, que são relativas à moradia (custos como aluguel ou condomínio), família (número de dependentes e despesas), transporte (gastos com transporte público ou carro próprio) e profissão (salário variável conforme a carreira).

Durante a partida, os jogadores lidam com imprevistos financeiros como aniversários, emergências médicas e viagens, enquanto gerenciam seus orçamentos. Além disso, podem optar por apoios como investimentos e seguros, que protegem contra gastos inesperados, ou ainda se deparar com cartas de "sorte ou revés", com eventos aleatórios que podem impactar as finanças.

“Cada carta de profissão, moradia ou família cria um cenário único. É possível jogar várias vezes e ter experiências diferentes, exatamente como na vida real”, explica Giovana Vieira Servare, estudante do 2º ano do Ensino Médio, uma das responsáveis pelo desenvolvimento do projeto.

Após a apresentação do trabalho para a comunidade escolar, as jovens receberam incentivos para dar continuidade ao trabalho, de modo a realizar alguns ajustes fornecidos pelos jogadores, visando uma produção mais ampla para atividades no âmbito escolar e familiar. As estudantes também pretendem aprimorar o jogo para dispositivos eletrônicos, tais como aplicativos de celulares.

Sobre o Santa Marcelina

O Instituto Internacional das Irmãs de Santa Marcelina foi fundado em 1838 por Monsenhor Luigi Biraghi, com o auxílio de Marina Videmari, em Milão, na Itália. Dedicada à educação, à saúde e à assistência social, a Congregação difundiu-se globalmente a partir da instituição de colégios, hospitais e obras sociais. 

Atualmente, presente em 8 países, espalhados por 3 continentes, e em 17 municípios e 9 estados brasileiros, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Tocantins, o Instituto segue com a missão de levar adiante, com empenho e entusiasmo, a educação, a formação, a cura e a construção do ser humano íntegro e da sociedade. Tudo isso alinhado a uma metodologia inovadora de aprendizagem, que, por sua vez, está alinhada às principais tendências do mercado educacional.

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

SUS – 35 anos!



Dimas Ramalho
Era 1988 quando o Brasil deu um passo decisivo rumo à democracia. Recém-saído de duas décadas de ditadura, o país escrevia uma nova Constituição, moldada pelos ideais de justiça, inclusão e dignidade. Naquele momento histórico, uma frase ecoou com força e esperança: “Saúde é direito de todos e dever do Estado.” Nascia ali, mais do que um artigo constitucional, um compromisso com a vida.
Dois anos depois, em 19 de setembro de 1990, esse lema ganharia corpo e substância com a criação do Sistema Único de Saúde –o nosso SUS.
Agora, em 2025, ao completar 35 anos de existência, o SUS pode ser considerado uma das maiores invenções coletivas do povo brasileiro. Em um país marcado por desigualdades sociais gritantes, ele é o elo que une milhões de pessoas em torno de um ideal comum: o acesso gratuito e universal à saúde. Não importa se você está no sertão nordestino, na periferia das grandes cidades ou numa aldeia indígena da Amazônia. O SUS está lá –cuidando, vacinando, tratando, prevenindo.
Não existe no mundo um sistema com tamanha capilaridade e abrangência. E ele não se limita a hospitais: está nas Unidades Básicas de Saúde, nas ambulâncias do Samu, nos centros de saúde mental, nas salas de vacinação, nos laboratórios de vigilância sanitária, nas farmácias populares e nas unidades de pronto-atendimento.
Embora seja para todos, é sobre os mais vulneráveis que recai sua importância mais decisiva: para milhões, o SUS é a única porta aberta para cuidar da saúde.
Ao longo dessas três décadas e meia, o sistema acumulou vitórias que transformaram o Brasil. Foi assim quando, num gesto corajoso, o país decidiu distribuir gratuitamente medicamentos antirretrovirais para pessoas vivendo com HIV/AIDS, desafiando o mercado e salvando milhares de vidas. Foi assim quando criou um dos maiores programas públicos de transplantes do planeta. Em 2024, bateu recorde: 30.303 transplantes de órgãos e tecidos, 85% totalmente financiados pelo SUS.
Se hoje o Brasil é exemplo mundial na luta contra o tabagismo, com uma das menores taxas da América Latina, isso se deve a políticas coordenadas entre vigilância sanitária, campanhas educativas e apoio ao tratamento, todas lideradas pelo mesmo sistema que também se tornou essencial nas emergências médicas com o Samu 192, levando atendimento pré-hospitalar rápido a lugares onde, antes, ninguém respondia aos gritos por socorro.
Mas é na base que acontece a revolução mais silenciosa. A Estratégia Saúde da Família, modelo de atenção primária utilizado no Brasil desde 1994, acompanha o cidadão desde o nascimento, prevenindo doenças, monitorando condições crônicas e formando vínculos duradouros entre profissionais e comunidades. É ali que a saúde começa de verdade, nos pequenos gestos, nos acompanhamentos de rotina, na escuta atenta de quem cuida.
A força do SUS também se expressa na vacinação infantil. Graças ao Programa Nacional de Imunizações, o Brasil erradicou doenças como a poliomielite, tornando-se exemplo mundial em campanhas de vacinação em massa.
Mas o sistema também enfrenta desafios profundos e persistentes. O mais estrutural deles é o subfinanciamento crônico. Desde sua criação, o sistema opera com menos recursos do que necessita. As verbas, embora crescentes em valores nominais, não acompanham plenamente as necessidades demográficas, epidemiológicas e tecnológicas. A judicialização crescente, com decisões que obrigam a compra de medicamentos fora da lista oficial, impõe custos imprevisíveis.
Segundo estimativas da Instituição Fiscal Independente, o gasto com saúde pública precisará crescer cerca de R$ 10 bilhões anuais nos próximos anos, ou 3,9% ao ano, para garantir um SUS minimamente adequado à demanda da população. Sem esse acréscimo, o sistema continuará convivendo com filas longas, espera por exames, carência de profissionais e infraestrutura deficiente, especialmente nas regiões mais pobres.
Mesmo assim, o SUS resiste. Porque é sustentado não apenas por recursos públicos, mas por uma legião de profissionais dedicados, por comunidades que participam de conselhos de saúde, por movimentos sociais que pressionam por melhorias e, sobretudo, por uma população que aprendeu enxergá-lo como um patrimônio coletivo.
Durante a pandemia de Covid-19, o SUS mostrou toda sua força. Foi ele quem estruturou a testagem, os leitos de UTI, o rastreamento de casos e, principalmente, a vacinação em massa. Em meio ao caos, o SUS foi abrigo. Foi escudo. Foi esperança. E provou, mais uma vez, que um país sem sistema público de saúde forte está à mercê da tragédia.
Agora, aos 35 anos, o SUS precisa mais do que homenagens. Precisa de compromisso. É hora de romper com as amarras do subfinanciamento, fortalecer a atenção primária, investir em ciência e inovação, valorizar seus trabalhadores e qualificar a gestão pública com foco em eficiência e transparência. É hora de enxergar o Sistema Único de Saúde não como um custo, mas como um investimento em vidas, em cidadania, em futuro.
O SUS não é perfeito, mas uma obra em eterna construção –coletiva, democrática, viva. E cabe a todos nós zelar por ela. Porque onde houver um posto de saúde funcionando, uma vacina sendo aplicada ou uma ambulância salvando alguém, ali estará o SUS cumprindo sua promessa.
Dimas Ramalho é vice-presidente do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo.

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Uma em cada seis crianças de até seis anos já sofreu racismo

 

Levantamento nacional mostra que 63% dos brasileiros acreditam que a discriminação racial começa já na primeira infância; creches e pré-escolas são os locais em que os casos são mais identificados
 

São Paulo, de outubro de 2025 – Às vésperas do Mês da Consciência Negra, novos dados revelam que 63% da população acredita que o racismo afeta as crianças desde os primeiros anos de vida. A informação integra o “Panorama da Primeira Infância: o impacto do racismo”, pesquisa nacional encomendada ao Datafolha pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal. A prevalência dessa percepção é mais comum entre mulheres, jovens e pessoas com maior renda e escolaridade.
 

Os achados revelam que o racismo atinge a infância de forma precoce: 16% dos responsáveis por crianças de até 6 anos afirmam que elas já sofreram discriminação racial. Entre cuidadores de pele preta e parda, esse índice chega a 19%.
 

“Isso é inadmissível em todos os aspectos. Estamos falando de uma fase da vida em que cada experiência conta para o desenvolvimento. Sofrer racismo, sobretudo nessa etapa, pode deixar marcas profundas na saúde, na aprendizagem e na autoestima das crianças”, afirma Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.
 

Os casos também são mais percebidos à medida que as crianças crescem. Enquanto 10% dos cuidadores relataram que crianças de 0 a 3 anos já passaram por alguma situação de discriminação, o percentual sobe para 21% entre os cuidadores de crianças de 4 e 6 anos. Um dos motivos é que crianças maiores conseguem verbalizar e compreender melhor as situações em que estão inseridas.
 

O racismo na escola

A pesquisa revela que creches e pré-escolas são os ambientes mais citados como locais onde crianças já sofreram discriminação racial. Entre os cuidadores entrevistados, 54% afirmam que suas crianças vivenciaram situações desse tipo em unidades de educação infantil, sendo mais frequente na pré-escola (61%) do que na creche (38%).
 

“Esse é um dado que deve ser observado com atenção e cautela. Parte disso pode ser explicado pelo fato de a escola ser um ambiente em que as crianças passam mais tempo e, portanto, ficam mais expostas”, analisa Mariana Luz. “Mas, se por um lado a escola pode ser cenário de discriminação, por outro, ela tem o potencial de ser o espaço onde a diversidade é valorizada e o racismo combatido. Preparar educadores e oferecer materiais adequados, conforme preconiza a Lei de História e Cultura Afro-Brasileira, é essencial para transformar essa realidade”, completa Luz.
 

Apesar de a Lei 10.639/2003 determinar que todas as escolas do país ensinem História e Cultura Afro-Brasileira, a prática ainda está longe de se consolidar. Um estudo realizado em turmas de creche e pré-escola de 12 municípios brasileiros revelou que 89,8% delas ignoram o ensino de questões étnico-raciais. Os dados constam na “Avaliação da Qualidade da Educação Infantil: Um retrato pós-BNCC”, realizada pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal em parceria com o Itaú Social, em 2023.
 

Além das escolas, outros espaços também foram citados como locais de racismo: parques e praças públicas (42%), condomínios e vizinhança (20%) e o próprio ambiente familiar (15%).
 

Serviços de saúde e assistência responderam por 6% dos casos relatados pelos cuidadores. Sendo que, nesses espaços, o índice de crianças de 0 a 3 anos que sofreram racismo é maior (12%) dos entre as crianças de 4 a 6 (3%).
 

Como o racismo afeta o desenvolvimento infantil

O enfrentamento do racismo desde cedo é crucial porque as experiências de discriminação estão associadas ao chamado estresse tóxico, que prejudica a saúde física e mental das crianças. Entre os impactos estão dificuldades de aprendizagem, baixa autoestima, rejeição da própria identidade, inibição comportamental e prejuízos na socialização.
 

“Garantir que bebês e crianças cresçam livres do racismo e qualquer outro tipo de discriminação é assegurar seu direito ao desenvolvimento pleno. Esse compromisso precisa ser assumido agora”, conclui Luz.
 

Metodologia

A pesquisa foi realizada entre os dias 8 e 10 de abril de 2025, com uma amostra nacional de 2.206 pessoas, sendo 822 responsáveis por crianças de 0 a 6 anos, que foram ouvidas em entrevistas presenciais em pontos de fluxo populacional. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para a amostra geral e 3 pontos percentuais para o grupo de responsáveis por crianças.
 

Em agosto, uma primeira parte da pesquisa “Panorama da Primeira Infância: O que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida” foi lançado com foco na percepção da sociedade sobre a primeira infância uso de telas e disciplinas punitivas.

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

PESQUISADORES ESALQ E CENA ESTÃO ENTRE OS CIENTISTAS MAIS INFLUENTES DO MUNDO

  

Crédito foto: Denise Guimarães (Divisão de Comunicação Esalq)

Parâmetro central de classificação foca no impacto medido por citações, em vez da produtividade bruta baseada apenas no número de artigos

 

 

A Universidade Stanford divulgou a lista internacional dos cientistas mais influentes do mundo, elaborada desde 2019 pelo professor John P.A. Ioannidis, a partir de indicadores padronizados de citações. Nesta edição, a Universidade de São Paulo (USP) conta com 287 pesquisadores, em um terceiro crescimento consecutivo da USP na relação. Entre os pesquisadores da USP, destacam-se 19 do Campus USP Luiz de Queiroz, em Piracicaba, que agrega a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) e Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena).

 

O resultado integra a oitava edição do Updated science-wide author databases of standardized citation indicators, publicado em agosto de 2025. O banco de dados, hospedado no repositório de dados da Elsevier (Mendeley Data Repository), é de acesso público e reúne informações sobre pesquisadores de todo o mundo. A metodologia foi originalmente descrita em artigos publicados na revista PLOS Biology (2016, 2019 e 2020).

 

O parâmetro central de classificação, denominado c-score, foca no impacto medido por citações, em vez da produtividade bruta baseada apenas no número de artigos. O índice também considera o número de coautores e atribui pesos diferentes conforme a posição ocupada pelo pesquisador em cada publicação (autor único, primeiro autor ou último autor).

 

Cientistas mais influentes Esalq e Cena

 

·         Pedro Henrique Santin Brancalion (Ecology)

·         José Alexandre Melo Demattê (Agronomy & Agriculture)

·         Carlos Eduardo Pellegrino Cerri (Agronomy & Agriculture)

·         Paulo César Sentelhas (Agronomy & Agriculture) (in memorian)

·         José Roberto Postali Parra (Entomology)

·         Ricardo Antunes de Azevedo (Plant Biology & Botany)

·         Maurício Roberto Cherubin (Agonomy & Agriculture)

·         João Lúcio de Azevedo (Microbiology)

·         Tsai Siu Mui (Microbiology)

·         Celso Omotto (Entomology)

·         Carlos Clemente Cerri (Agronomy & Agriculture) (in memorian)

·         Paulo Sergio Pavinato (Agronomy & Agriculture)

·         Fernando Dini Andreote (Microbiology)

·         Ernani Pinto Junior (Analytical Chemistry)

·         Quirijn De Jong Van Lier (Agronomy & Agriculture)

·         Roberto Sartori Filho (Dairy & Animal Plant)

·         José Leonardo de Moraes Gonçalves (Foresty)

·         Gilberto José de Moraes (Entomology)

·         Luciano Martins Verdade (Zoology)

 

O Brasil teve 1.461 pesquisadores listados, o que corresponde a 0,6% do total mundial, ocupando a 24ª posição global em 2024. No Estado de São Paulo, foram cerca de 577 nomes, o que representa em torno de 40% do total nacional. Além da USP, destacaram-se a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com 106 nomes, e a Universidade Estadual Paulista (Unesp), com 80. 

 

Alicia Nascimento Aguiar (com dados do Jornal da USP)

terça-feira, 19 de agosto de 2025

“Likes” destrutivos: infâncias roubadas, adultos infantilizados

 

André Naves (*)

 

Vivemos sob os efeitos de um espelho invertido. De um lado, empurramos nossas crianças para uma vida adulta que não lhes pertence, cobrando performance, estética e consumo. Do outro, nós, os adultos, nos refugiamos em uma infantilidade cômoda, movida a recompensas instantâneas e a uma aversão crescente à complexidade e à responsabilidade. Este aparente paradoxo não é um acaso. É o sintoma mais claro de uma sociedade que abdicou da maturidade em troca do entretenimento; e o preço dessa troca é o futuro de toda uma geração.

 

O motor dessa engrenagem é um sistema econômico que transformou a atenção em mercadoria e o cidadão em consumidor. As plataformas digitais, com seus algoritmos viciantes, são a mais perfeita expressão desse modelo. Para as crianças, elas vendem a "adultização" como um produto aspiracional, monetizando cada gesto e criando uma legião de pequenos influenciadores ansiosos. Para os adultos, o produto é outro: um fluxo infinito de conteúdo simplificado, debates polarizados e desafios virais que nos mantêm engajados, mas dóceis. Ao nos tratar como crianças que só respondem a estímulos fáceis, o sistema nos infantiliza e, assim, nos torna coniventes com o roubo da infância alheia.

 

O resultado dessa engenharia social é uma tragédia gritante que se desenrola dentro de casa. O adulto infantilizado, treinado para a gratificação imediata e para a superficialidade das relações digitais, perde as ferramentas essenciais para guiar uma criança no mundo real. Como ensinar o valor da paciência, da resiliência e do pensamento crítico quando nós mesmos estamos presos em um ciclo de dopamina que dura quinze segundos? A criança "adultizada" é, em grande parte, o reflexo de um adulto que não consegue mais exercer a complexa e bela tarefa de ser um porto seguro.

 

Diante desse cenário, a resposta mais comum é clamar por políticas públicas, leis e regulação. E, sem dúvida, são passos necessários. Temos legislações avançadas, como o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Marco Civil da Internet. O problema é que essas leis são como um software sofisticado tentando rodar em um hardware social e político quebrado. A fiscalização é precária e a execução de políticas públicas falha porque, como sociedade, perdemos o fôlego para projetos de longo prazo. A mesma lógica imediatista que nos prende às telas infecta a gestão pública, que prefere o paliativo vistoso ao investimento estrutural e silencioso.

 

É aqui que a verdadeira solução se revela, não como um remendo, mas como a única forma de reconstruir nosso "hardware" social: a Educação. Não falo apenas de instrução formal, mas de uma Educação para a vida, que fomente o senso crítico, a inteligência emocional e a ética do cuidado. É ela que pode fornecer as ferramentas — os "anticorpos" — para que crianças e adultos se tornem resilientes à manipulação dos algoritmos e à cultura do consumo desenfreado. Investir em Educação é a forma mais eficaz de quebrar o feitiço do algoritmo.

 

Portanto, a luta pela proteção da infância é, fundamentalmente, uma luta pelo resgate da nossa própria maturidade. Exige que nós, adultos, tenhamos a coragem de desligar o piloto automático, de buscar a profundidade em vez da distração e de assumir a responsabilidade por construir um mundo onde as crianças tenham o direito de ser, simplesmente, crianças. É um duplo resgate, e um depende inteiramente do outro.

 

* André Naves é Defensor Público Federal formado em Direito pela USP, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia Política pela PUC/SP; Cientista Político pela Hillsdale College e doutor em Economia pela Princeton University. Comendador Cultural, Escritor e Professor (Instagram: @andrenaves.def).



sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Com apelo à ação e foco na cooperação, Seminário Nacional pela Alfabetização encerra debates em Fortaleza

 

 
FOTOS: Carol Dias

Fortaleza - 07 de Agosto de 2025 - A capital cearense recebeu, nos dias 06 e 07 de agosto, o Seminário Nacional pela Alfabetização, que reuniu autoridades nacionais, gestores e especialistas da área para debater os rumos da alfabetização no Brasil. O evento, que contou com cerca de 500 participantes presenciais e aproximadamente 20 mil inscritos online, teve sua abertura marcada por falas que reforçaram o compromisso coletivo com a alfabetização das crianças brasileiras na idade certa.

Fotos: Carol Dias

O ministro da Educação, Camilo Santana, defendeu o regime de colaboração entre União, estados e municípios como pilar essencial para o sucesso do Compromisso Nacional Criança Alfabetizada (CNCA). “Não aceitaremos retrocessos quando o assunto é alfabetizar nossas crianças”, afirmou. Ele também comemorou a criação da Política Nacional Integrada da Primeira Infância, destacando o papel do MEC na coordenação dessa nova frente.
 

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, compartilhou a trajetória de melhoria nos índices de alfabetização do seu estado. “Saímos de 92% de crianças que não sabiam ler, escrever e interpretar, muitas delas só se alfabetizavam no 4º ou 5º ano. Isso criava um sentimento de exclusão. Com muito trabalho e apoio aos municípios, avançamos. Hoje, Goiás alcançou 72,7% de crianças alfabetizadas na idade certa. Ainda estamos atrás do Ceará, com seus mais de 85%, mas vamos continuar avançando com seriedade e dedicação”, destacou Caiado.
 

Já no segundo dia de evento, as discussões foram voltadas à equidade, mobilização social e avaliações. Participação importante no encontro, Márcio Pochmann, presidente do IBGE, destacou o papel das políticas públicas eficazes: “Estamos vivendo uma época permeada de mudanças e isso nos leva a refletir sobre a alfabetização. Um país que se coloca cada vez mais no centro do mundo, com as suas dificuldades, evidentemente, mas também com uma imensa oportunidade, tem um desafio muito grande que é construir políticas de natureza preditiva, de enfrentamento das desigualdades regionais, esse é nosso grande desafio”.
 

O Senador da República e Presidente da Subcomissão Permanente da Alfabetização na Idade Certa, Cid Gomes, defendeu a alfabetização como prioridade nacional e destacou a educação como vetor de transformação social. “Estou na vida pública porque acredito que todas as pessoas devem ter a chance de realizar seus sonhos, e isso só é possível por meio da educação. Nosso maior desafio é garantir uma escola pública de qualidade para todos os brasileiros”, lembra.

Fotos:Carol Dias

Já o presidente do INEP, Manuel Palacios, enfatizou os processos de avaliação: “A avaliação feita pelos sistemas estaduais serve como uma ferramenta de apoio à gestão de uma maneira muito mais significativa do que uma avaliação nacional sem o ponto de vista das iniciativas estaduais. No rastro dessa iniciativa, sistemas de incentivo estaduais ao progresso da educação brasileira foram criados em quase todas as unidades da federação. Precisa-se criar um ambiente de incentivo continuado, que seja vinculado entre a União e o Estado. Nós precisamos ter avaliações convergentes e estamos empenhados em tornar nossas avaliações mais sensíveis às realidades das redes e mais úteis para o planejamento educacional”, reforçou.
 

Em sua fala final do evento, Veveu Arruda, diretor-presidente da Associação Bem-Comum reforçou a relevância do encontro: “Nós reunimos 500 pessoas no auditório, representando todos os estados brasileiros e o Distrito Federal. E tivemos uma participação expressiva, com quase 20 mil pessoas do Brasil e de outros países. É assim que a gente consegue reverberar a agenda da alfabetização na idade certa, que, apesar dos esforços importantes feitos nos últimos anos, ainda precisa ser uma prioridade na nação brasileira. Mesmo o Brasil sendo o único país do sul global que tem um programa nacional para a superação do analfabetismo, que é o Compromisso Nacional da Criança alfabetizada (CNCA), por meio do regime de colaboração da União com estados e municípios, nós ainda precisamos, juntos, enfrentar esse problema do analfabetismo. A troca de experiência que tivemos nesses dois dias foi tão rica que saímos com uma animação no coração e na cabeça de que seremos, sim, capazes de alcançar a meta que o próprio governo federal estabeleceu, de alfabetizar, até 2030, 80% das crianças”.
 

O Seminário Nacional pela Alfabetização foi promovido pela Aliança pela Alfabetização (Associação Bem Comum, Fundação Lemann e Instituto Natura), e Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (CAEd), em parceria com o B3 Social e Fundação Vale.

Embriaguez ao volante: vítimas ficam desamparadas por falta de políticas públicas

 


 

Mais de 3,5 mil acidentes de trânsito nas rodovias federais brasileiras, entre janeiro e novembro de 2024, foram relacionados por embriaguez ao volante, segundo levantamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Os sinistros provocaram 178 mortes e deixaram 2.828 pessoas feridas. No maior estado do país, que representa 28% da frota brasileira, os números também impressionam. De acordo com o Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP), no ano passado, cerca de 13 mil motoristas foram autuados por alcoolemia (recusa, direção sob efeito de álcool e embriaguez), um aumento de 29% no comparativo com 2023.


“Infelizmente, todos nós estamos submetidos à irresponsabilidade de pessoas que assumem o risco de dirigir alcoolizadas. Atualmente, um Projeto de Lei tramita no Congresso Nacional para tornar a embriaguez ao volante com resultado morte em crime hediondo, sob a ideia de se fazer Justiça em casos de acidentes com vítimas fatais. No entanto, quando os sinistros deixam feridos e sequelados, no Brasil não existe nenhuma política pública de amparo às vítimas”, diz Lucio Almeida, presidente do CDVT – Centro de Defesa das Vítimas de Trânsito, Organização Não Governamental sem fins lucrativos e com atuação em todo o território nacional.


Almeida denuncia, inclusive, dos retrocessos e desmontes nas políticas públicas relacionadas às vítimas de acidentes de trânsito. “Primeiro teve o fim da arrecadação do DPVAT (Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por Veículos Automotores de Via Terrestre), em 2020. Recentemente, denúncias de que os valores do FUNSET (Fundo Nacional de Segurança e Educação no Trânsito) estão sendo contingenciados para despesas do governo. E agora a proposta de acabar com a obrigatoriedade de autoescola para tirar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação). São medidas completamente inadequadas para um país que tem um dos trânsitos mais violentos do mundo”, contesta.


A política de um seguro obrigatório não é uma inovação recente. Iniciou-se em 1929 na Suécia, transformando-se num modelo que se estende atualmente por diversos países, inclusive nos menos desenvolvidos ou economicamente inferiores ao Brasil. No Peru, Equador ou Venezuela, por exemplo, as vítimas são cobertas pelo SOAT (Seguro Obrigatório de Acidentes de Trânsito), que cobre despesas médicas e hospitalares, independentemente de quem seja o culpado pelo acidente. “Seja motorista, passageiro ou pedestre, todos têm direito a um respaldo digno em caso de acidente. Portanto, não podemos mais tolerar que sejam tratados com todo esse descaso”, conclui o presidente do CDVT.


Dinheiro parado - Almeida também destaca a necessidade da liberação por parte das empresas de seguro dos R$ 2,6 bilhões que já haviam sido arrecadados pelo DPVAT para o fundo de indenizações para as vítimas de trânsito, que já foi determinada pelo Tribunal de Contas da União (TCU). “Com esse valor, seria possível indenizar todas as vítimas de 2023 e 2024, por exemplo”, afirma o presidente do CDVT.


Cobrança feita também pelo DPU (Defensoria Pública da União), que entrou com uma ação judicial para assegurar que vítimas de trânsito recebam suas indenizações devidas, mas que tiveram seus pedidos negados ou bloqueados, apesar de cumprirem todos os critérios legais. Essas pessoas se acidentaram entre novembro de 2023 e dezembro de 2024, período em que o SPVAT estava em vigor, mas enfrentava entraves legais.

Estudantes do Colégio Santa Marcelina São Paulo desenvolvem jogo de tabuleiro para ensinar educação financeira

  - Denominado “Jornada do Milhão”, o jogo estimula os participantes a tomarem decisões financeiras estratégicas, planejando orçamentos e ge...